O 4º elemento

O semeador, Millet em 1850 

Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.
Isaías 55.10-11

Nesse conhecidíssimo texto de Isaías podemos conhecer a sensibilidade que o profeta possuía para perceber a total abrangência que a Palavra de Deus exerce sobre a sua criação. Tendo como exemplo um simples dia chuvoso, ele conseguiu detectar os quatro elementos essenciais dos quais a Palavra se vale para a sua disseminação e propósito: a semente, o semeador, o pão e aquele que o come. Poderíamos dizer que este é um diagrama completo que toda iniciativa evangelística deveria ter em mente, antes de ser sequer imaginada, quanto mais executada.

Logicamente que tudo começa com a semente. Esta foi a figura usada por Jesus para designar não somente a importância, mas a eficácia da mensagem na pregação do evangelho. É de capital relevância ter uma mensagem, pois só assim, na concepção de Jesus dada a conhecer na parábola do semeador, independentemente das condições básicas do solo, a Palavra, por si mesma, encontra um jeito de germinar.

Existe também um detalhe sobre a atitude do semeador que conta bastante. Não é da competência deste escolher o tipo de solo em que vai lançar a semente, mas é consistente ao afirmar que ele deve possibilitar que o solo, por mais adverso que seja ao plantio, reúna condições de fazer com que a semente não somente germine, mas que dê o seu fruto.

O texto assegura, no entanto, que apenas o conjunto desses dois elementos ainda não é suficiente, pois ele diz que é a própria Palavra que antecipadamente, na maioria das vezes sem a influência de um semeador, fecunda a terra e faz brotar. Foi exatamente isso que observou o apóstolo Paulo, quando perplexo e constrangido recebeu a notícia de que seu nome estava servindo de motivo de sectarismo entre os membros da Igreja de Corinto. Àqueles que colocavam a denominação ou o nome do pastor acima do propósito da mensagem, ele disse sem rodeios falando da sua própria limitação: Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus.

O segundo par de elementos também não é menos interessante, e mostra uma relação muito mais estreita que a anterior. Pois não haveria necessidade de pão, caso não houvesse quem o comesse. Por outro lado, nem existiria um ser carente sem que houvesse pão que o mantivesse até o estágio da vida em que ele fosse confrontado com a Palavra de Deus. E aqui não se trata de avaliar quem é mais importante, se é Deus ou o pão; se é a mensagem do evangelho ou o alimento material para o sustento. Esse assunto já foi devidamente tratado e esclarecido no texto que narra a tentação de Jesus no deserto. O tema em questão realça qualquer impossibilidade de dissociação destes dois elementos. Pois se a Palavra é lançada com a finalidade da conversão da mente, ela não pode prescindir de satisfazer a necessidade mais imediata do corpo daquele que a ouve.

Isso não passaria de um inominável desperdício, é o que diz a pregação de Jesus. A fome foi determinante na conversão do filho pródigo, e ela é quem encabeça a lista de obrigações mais elementares confiadas àqueles que pretendem ser seus discípulos: Pois tive fome e me deste de comer.

Embora muitos se esforcem em fazê-lo, não há como desintegrar a Bíblia em dois testamentos distintos. Na mensagem que a Palavra de Deus nos traz hoje estão embutidas todas as promessas feitas a Abraão, não sei quantos mil anos atrás. Tenhamos uma certeza: esta Palavra não voltará para Deus vazia, ela prosperará naquilo para o qual foi designada. Com ou sem a nossa participação.

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