Entre a Ascensão e o Pentecostes V

Visão católica do Pentecostes, autor desconhecido
De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles.Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer? Atos 2.2-3 e 12

Atos dos Apóstolos: Pentecostes em todo os seus detalhes.
Se algum fato nessas narrativas até então nos pareceu estranho seria bom que nos preparássemos para a totalmente estranha narrativa da Lucas. Considerando que o livro dos Atos dos Apóstolos, também chamado de evangelho do Espírito Santo, é uma continuação, algo assim como um segundo capítulo do evangelho de Lucas, teremos que analisar separadamente o mesmo conjunto de elementos, segundo a visão que o evangelista narrou em cada um desses momentos.

Quando ao evangelho já falamos demoradamente em uma meditação de três partes chamada É preciso ir para vir. Acrescentaria, porém, um dado relevante ao que foi dito anteriormente. Como a tônica da descrição dos evangelhos já retratados era a mistura de sentimentos que normalmente não se combinavam, além do paradoxo comentado nas postagens referidas acima, Lucas acrescenta a ideia de que o que causou descrédito entre os discípulos foi justamente a alegria. Deve ter sido a confirmação do velho ditado: era muito para ser verdade: Lc 24.41 - Eles ainda não acreditavam, pois estavam muito alegres e admirados...

Na celebração do Domingo de Pentecostes, que, em última análise, trouxe o vento, que procedeu a reparação de todos os equívocos, e as línguas de fogo que reorganizaram o que restou de sentimentos estranhos. Até que enfim um final de semana glorioso para quem vinha vivendo as incertezas se um período complexo, sem parâmetros em toda a História e de difícil assimilação.

Lucas deixa claro que Deus passa por cima de todas essas coisas para anunciar que o derramamento total e irrestrito do seu Espírito sobre toda a carne era chegado. Mais do que a realização de uma promessa. Essa era a concretização de um delírio profético, que foi muito mal compreendido e interpretado pelos contemporâneos desses autênticos arautos de Deus. Não tem como Lucas não fazer a associação desse momento com as palavras de Jesus que diziam: Lc 10.24 - Pois eu vos afirmo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não o ouviram.

Se por um lado, o Pentecostes confirma as visões proféticas, por outro abre possibilidade de um sem número de novas visões desafiadoras ou de um bom par de visões antigas que ainda não foram realizadas totalmente. Mas o Pentecostes não é somente isso, ele nos faz lembrar daqueles que deram as suas vidas para que essas promessas se cumprissem. Pelo menos é assim que Pedro abre seu discurso inaugural, falando justamente de Joel, um profeta perseguido.

Mas se o Pentecostes nos remete ao seu passado, ele também nos remete ao seu futuro. Esse espaço que tempo que para nós é tanto passado quanto futuro, pois é ele quem nos situa bem entre aqueles que deram suas vidas em testemunho de que essa promessa foi de fato cumprida e aquele que ainda o faz hoje em dia.

Acreditar no Pentecostes não é fazer simplesmente a análise correta dos fenômenos que o acompanharam. O vento se dissipou e as línguas de fogo não são mais visíveis porque estes não eram os grandes milagres prometidos por Deus. Eles apenas apontavam para os verdadeiros milagres do Pentecostes, aqueles que ainda podem ser vistos nos dias de hoje, que são: a restauração da fé daquele que já não encontrava motivo algum para crer; o soerguimento e valorização de pessoas que estavam completamente esmagadas pelas circunstâncias adversas; a transformação de homens escravizados pelos grilhões do medo em contestadores ferrenhos das mais bem alicerçadas estruturas injustas da humanidade.

O Domingo de Pentecostes, que para muitos é o dia em que a igreja de fato inicia o seu ministério, para outros, algo que aconteceu apenas na interpretação de Lucas. Mas para mim, o que é o Pentecostes? Com toda a certeza não é algo que se encerrou naquela semana vivida pelos discípulos de Jesus. Bem como não é algo que se encerra nas divagações descritas nas postagens dessa semana, neste blog, como também em nenhuma literatura ou no conjunto total de literaturas que descreve e interpretam esse evento até então.  Por tudo, isso fico com a definição de Jesus: Ele é o vento de Deus. Podes ouvir a sua voz, mas não sabes de onde ele vem e nem para onde ele vai.

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