É preciso ir para vir II

Ascensão de Cristo, Julie Himel
Como é que nós crescemos? Qual é o segredo do nosso crescimento? Jesus sabia melhor do que ninguém que os discípulos não alcançariam a maturidade espiritual enquanto ele estivesse presente. Pelo contrário, depois de três anos de contato íntimo, depois de viverem junto com ele experiências marcantes e reveladoras, depois de serem arduamente preparados, e depois de passarem pelos maiores desafios era de se esperar que eles estivessem completamente maduros nas propostas do Reino que Jesus veio inaugurar, mas não foi o que aconteceu.

Essa é a razão da existência do paradoxo porque aqui existe um segredo espiritual: Jesus os deixou porque queria que eles crescessem. No refluxo da vida cristã Jesus sempre nos deixará a sós para nos incutir a necessidade de estarmos sempre criando novos rumos. Ele nos deixará a sós para que o recebamos sempre de um jeito diferente. Ele nos deixará a sós para que o recebamos de um jeito mais profundo. Em João 20.29 os discípulos conheceram o valor inestimável dessa ausência: Você creu porque me viu? — disse Jesus. — Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!

Mesmo após tanto convívio e treinamento os discípulos ainda não o conheciam, tanto é assim, que vez após vez o interpretavam erradamente; vez após vez faltava-lhes confiança. Todas as vezes que Jesus desapareceu das suas vistas eles ficaram atordoados de medo. Como quando Jesus se retirou para o monte para orar ou quando surgiu diante deles andando sobre o mar, e até encontrá-lo de novo, seus corações se mantiveram aflitos como o de uma criança perdida.


Eles não cresceriam enquanto Jesus estivesse presente, porque Jesus cuidava deles demais, Jesus orientava cada um dos seus passos. Nós não somos diferentes deles na relutância em crescer. Não chegamos a ter na nossa vida espiritual uma fé com segurança, sem antes vagarmos desesperadamente por inúmeros estágios de desconfiança. Nunca chegaremos a ter confiança em nosso crescimento enquanto não descobrirmos quem somos e como somos. Possuímos uma capacidade infinita de evitar qualquer desafio que nos exige mudanças. Estamos sempre de prontidão para rejeitar qualquer proposta que nos obrigue a pensar diferente do que pensamos. Temos uma resistência incrível em refazer o nosso estilo de vida. Por causa dessas coisas é que não aceitei o fato da Yasmin ter raspado a cabeça.

Quem nunca experimentou aquela escuridão da alma quando nenhuma razão para viver existe? Quem não se lembra com nitidez daquela hora em que a vida nos oprimiu tanto, que não pensamos em desistir dela e de todas as coisas, inclusive da fé? É justamente nesses momentos que nos vem a consciência do quanto somos fracos. Na hora em que parece que nada dá certo é que nos inteiramos do quão fraco é o nosso relacionamento com Deus. Assim,somos impelidos a confiar mais, a buscar mais, a meditar mais, a amar mais. Somos forçados a crescer.


Jesus expôs os nossos preconceitos quando determinou o fim da religião satisfeita, pois escolheu os momentos de solidão e de desespero para nos alcançar por inteiro. São nos momentos difíceis da vida que ele nos prepara para recebê-lo com toda a profundeza, porque o Senhor Deus eterno se vale das tragédias da vida para nos fazer crescer. E ninguém está livre disso. A tortura e a morte horrenda de Jesus na cruz acordaram de vez para sempre os discípulos para verem o quanto a natureza humana é depravada. Todas as aspirações humanas de bondade, todas as aspirações infantis de fazer desse mundo um mundo de paz e de justiça, morreram na cruz.

Onde está a esperança? O que podemos fazer? No que podemos crer? Nessa hora de desespero, de onde me virá o socorro? 

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