O que é HOSPITALIDADE?

Os três anjos, Marc Chagall em 1957
A hospitalidade, obra de misericórdia.
O hóspede que passa e pede o teto que lhe falta lembra em primeiro lugar a Israel, sua condição passada de estrangeiro escravizado, em seguida a sua condição presente de viandante sobre a terra. Esse hóspede tem pois necessidade de ser acolhido e tratado com amor, em nome de Deus que o ama. O hospedeiro não recuará diante dos maiores sacrifícios para defendê-lo: Gn 19.8 – Tenho duas filhas virgens, eu vo-las trarei; tratai como vos parecer, porém, nada façais a estes homens, porquanto se acham sob a proteção do meu teto; não hesitará em incomodar amigos se ele pessoalmente não tem meios de atender às necessidades de um hóspede inesperado.

Esse acolhimento solícito e religioso, do qual Abraão, acolhendo anjos, continua a ser o protótipo, do qual Jó tanto se gloria, e de cuja prática Cristo enaltece manifesta a caridade fraterna que o cristão deve exercer para com todos: Rm 12.13 - Compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade.

A hospitalidade, testemunho de fé.
Por ocasião do Dia do Juízo Final, Jesus há de revelar a todos o mistério dessa hospitalidade como forma de caridade. Através do hóspede e nele, é Cristo que é acolhido ou repelido, reconhecido ou ignorado, como no tempo em que ele veio entre os seus; não foi só por ocasião de seu nascimento que não houve lugar para ele na hospedaria; foi até ao fim da sua vida que o mundo o ignorou e que os seus não o receberam: Mt 25.40 – Em verdade vos digo que, sempre fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.

Porém, aqueles que nele creem recebem em seu Nome os seus enviados, bem como a todos os homens, mesmo aos mais humildes; eles veem em todo hóspede não só um enviado do Senhor, um anjo, e sim o próprio Cristo: Mt 10.41- Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo. Por isso, longe de tratar o hóspede como um devedor, como um importuno de quem se desconfia e contra o qual se murmura, acolhe-se com alegria aqueles que não poderão pagar de volta os serviços que se lhes são prestados: Lc 14.12-13 - Disse também ao que o havia convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem vizinhos ricos; para não suceder que eles, por sua vez, te convidem e sejas recompensado.  Antes, ao dares um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos.

Todo cristão, e em particular o epíscopo, deve ver naquele que bate à sua porta o Filho de Deus que vem com seu Pai para o cumular de bens e nele estabelecer a sua morada: Jo 14.23 - Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. E esses hóspedes divinos o intro­duzirão por sua vez em sua casa, não como hóspede, mas como filhos da casa: Ef 2.19 - Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus.

Felizes os servos vigilantes que abrirem a porta ao Mestre que bate quando de sua parusia. Invertendo os papéis e manifestando o mistério da hospitalidade, será Ele quem servirá à mesa: Lc 12.37: Bem-aventurados aqueles servos a quem o senhor, quando vier, os encontre vigilantes; em verdade vos afirmo que ele há de cingir-se, dar-lhes lugar à mesa e, aproximando-se, os servirá, será Ele que fará partilhar a sua refeição: Ap 3.20: Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo.

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