O que é CRUZ?

Cruz, o caminho estreito, David Hayward
Jesus morreu crucificado. A cruz, que foi o instrumento da redenção, se tornou, juntamente com a morte, o sofrimento e o sangue, um dos termos essenciais que nos fazem lembrar a nossa salvação. Ela já não é uma infâmia e sim uma exigência e um título de glória, primeiramente para Cristo e depois para os cristãos.

A cruz de Jesus Cristo
O escândalo da cruz, pregamos um Cristo crucificado, é escândalo para os judeus e loucura para os pagãos (l Co 1.23). Com essas palavras exprime Paulo a espontânea realização de todo homem posto em presença da cruz redentora. Viria a salvação ao mundo greco-romano pela crucificação, o suplício reservado aos escravos que era não só uma morte cruel, mas vergonhosa? Seria a redenção obtida para os judeus através de um cadáver, essa impureza de que era preciso desfazer-se o quanto antes, por um condenado suspenso no madeiro, e que trazia sobre si a marca da maldição divina (Dt 21.22)?

No Calvário, era fácil para os expectadores zombarem dele, convidando-o a descer da sua cruz, mas quanto aos discípulos pode-se prever a sua reação horrorizada? Pedro, que, não obstante, acabava de reconhecer em Jesus o Messias, não podia tolerar sequer o anúncio de seu sofrimento e de sua morte, como teria ele admitido sua crucifixão? Por isso, na véspera da sua paixão anuncia Jesus que todos se escandalizarão a seu respeito.

O mistério da cruz
Se Jesus, e depois dele os discípulos, não minimizaram o escândalo da cruz, porque algum mistério oculto lhe dava um sentido. Antes da Páscoa era Jesus o único a afirmar sua necessidade de obedecer a vontade do Pai. Depois de Pentecostes, iluminados pela glória do Ressuscitado, seus discípulos proclamam também tal necessidade, situando o escândalo da Cruz em seu verdadeiro lugar no desígnio de Deus. Se o Messias foi crucificado, suspenso no madeiro de um modo escandaloso, foi sem dúvida por causa do ódio dos seus irmãos. Porém, uma vez esclarecido pela profecia, o fato adquire uma nova dimensão: ele realiza o que tinha sido escrito de Cristo. Por isso os relatos evangélicos da morte de Jesus encerram tantas alusões aos salmos. Era preciso que o Messias sofresse, como diziam as Escrituras, conforme o Ressuscitado explicará aos peregrinos de Emaús.

A teologia da cruz.
Paulo recebera da tradição primitiva que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras (I Co 15.3). Esse dado tradicional proporciona um ponto de partida para a sua reflexão teológica. Reconhecendo na Cruz a verdadeira sabedoria, não quer ele conhecer senão Jesus crucificado. Nisso, resplandece a sabedoria do desígnio de Deus, já anunciado no Primeiro Testamento; através da fraqueza do homem se manifesta a força de Deus.

Desenvolvendo essa intuição fundamental, Paulo descobre um sentido nas próprias modalidades da crucifixão. Se Jesus foi suspenso no madeiro como um maldito, foi para nos remir da maldição da Lei (Gl 3.13). Seu cadáver exposto sobre a cruz, carne semelhante à do pecado, permitiu a Deus condenar o pecado na carne (Rm 8.3); a sentença da Lei foi executada, mas ao mesmo tempo Deus a suprimiu pregando-a à cruz, e, desse jeito, despojando as potestades (Cl 2.14s). Assim, pelo sangue da sua cruz, Deus reconciliou consigo todos os seres (Cl 1.20); suprimindo as antigas divisões causadas pelo pecado, restabeleceu a paz e a unidade entre judeus e pagãos para que eles já não formem senão um só Corpo (Ef 2.14-18). A cruz se alça, portanto, no limite entre as duas economias do Primeiro e o Segundo Testamentos. (continua)

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