Simão, André, Tiago e seu irmão João, Eugene Higgins |
Todo mundo tem regras para escolher seus amigos, e alguns entre nós têm regras bastante rígidas nessa escolha, visto que um amigo, amigo de fato, não alguém que simplesmente aparece e desaparece das nossas vidas. Como dizia Charles Chaplin: Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Como não poderia ser diferente, Jesus também estabeleceu as suas regras de amizade.
Quando olhamos o texto de João citado acima, temos a nítida impressão Jesus começa a ditar as suas regras justamente pela última exigência que alguém poderia pensar a exigir de um amigo. Assim mesmo, se já tiver comido com ele vários quilos de sal, caso essa amizade tivesse sido provada pelo fogo, caso fosse muito íntima e muito antiga. A sua estranha lista parece começar desse jeito: Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando.
Podemos dizer com bastante certeza que exigindo tanto logo de cara, ele não conseguiria fazer um amigo sequer. Mas o texto vem mostrar que existe uma série tão grande de contrapartidas nessa exigência, que alguns de nós até ficaríamos inclinados a pensar que ele tem razão em pedir algo tão incomum e de um autoritarismo sem conta.
Se, porventura, a lista fosse observada de trás para frente, ela começaria assim: Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi. Isso mostra que Jesus tinha plena convicção de que esses amigos, a quem escolheu um por um a dedo, estavam realmente capacitados a cumprir a sua controversa exigência. Se por um lado eles não eram um bando de párias sociais, pois todos tinham algo a perder, além do seu trabalho e família, por outro, também não era um grupo coeso de ideais firmes e objetivos claros. Era gente do tipo mais comum. Pessoas com as quais continuamos a nos esbarrar nas ruas e esquinas da vida.
A partir desse ponto Jesus vai dizer que a sua amizade veio para superar e derrubar a, até então, intransponível barreira que demarcava nitidamente os limites que separavam o mestre de seus discípulos: Eu não chamo mais vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que o seu patrão faz; mas chamo vocês de amigos. O emprego do termo “empregado” nessa frase é apropriado, porque sabemos bem que na divisão de classes da sociedade greco-romana os discípulos estavam abaixo dos escravos, e sujeitos aos desmandos e a todas as vontades do seu tutor e mestre, todas mesmo. É aqui que Jesus confirma o parâmetro revolucionário para uma nova hierarquia social que havia proposto anteriormente: quem quiser ser o primeiro, seja o último, quem quiser ser o maior, seja servo de todos.
Como justificativa derradeira da sua exigência, Jesus lhes assegura que o amor incondicional pelos seus amigos, exige que ele esteja pronto e decidido a ir até às últimas consequências: Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles.
Bom, diante do exposto vemos que não há muito o que questionar em uma amizade desse quilate. O que importa agora é a resposta que daremos a ela. Essa pergunta já foi levantada por Pôncio Pilatos no julgamento que fez de Jesus: O que farei de Jesus chamado Cristo? Ela repercute hoje da seguinte forma: O que fazer para ser, pelo menos, um pouco digno de uma amizade assim? O texto também nos socorre nessa hora nos preparando o espírito com duas advertências fundamentais: a lembrança e a persistência. Lembrem do que eu disse: “O empregado não é mais importante do que o patrão”. Se as pessoas que são do mundo me perseguiram, também perseguirão vocês; se elas obedeceram aos meus ensinamentos, também obedecerão aos ensinamentos de vocês.
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