Perdoa-me e mata os meus inimigos

Mapa antigo de Israel
Leia Salmos 79 79.1 [Salmo de Asafe] Ó Deus, as nações invadiram a tua herança, profanaram o teu santo templo, reduziram Jerusalém a um montão de ruínas. 79.2 Deram os cadáveres dos teus servos por cibo às aves dos céus e a carne dos teus santos, às feras da terra. 79.3 Derramaram como água o sangue deles ao redor de Jerusalém, e não houve quem lhes desse sepultura. 79.4 Tornamo-nos o opróbrio dos nossos vizinhos, o escárnio e a zombaria dos que nos rodeiam.
79.5 Até quando, SENHOR? Será para sempre a tua ira? Arderá como fogo o teu zelo? 79.6 Derrama o teu furor sobre as nações que te não conhecem e sobre os reinos que não invocam o teu nome. 79.7 Porque eles devoraram a Jacó e lhe assolaram as moradas. 79.8 Não recordes contra nós as iniquidades de nossos pais; apressem-se ao nosso encontro as tuas misericórdias, pois estamos sobremodo abatidos.
79.9 Assiste-nos, ó Deus e Salvador nosso, pela glória do teu nome; livra-nos e perdoa-nos os pecados, por amor do teu nome. 79.10 Por que diriam as nações: Onde está o seu Deus? Seja, à nossa vista, manifesta entre as nações a vingança do sangue que dos teus servos é derramado.
79.11 Chegue à tua presença o gemido do cativo; consoante a grandeza do teu poder, preserva os sentenciados à morte. 79.12 Retribui, Senhor, aos nossos vizinhos, sete vezes tanto, o opróbrio com que te vituperaram. 79.13 Quanto a nós, teu povo e ovelhas do teu pasto, para sempre te daremos graças; de geração em geração proclamaremos os teus louvores.

Texto do rev. Jonas Rezende.
Quando Jesus ensinou a oração do pai-nosso, deixou bem claro, por meio de explicações que parecem elementares - e até de uma parábola esclarecedora -, que pedir perdão a Deus é estar pronto também a perdoar os que nos são devedores: perdoa-nos a nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido.

O mestre conhecia o coração humano e a experiência dos salmos, que citou, mesmo crucificado. Esta a razão por que foi tão explícito: se vocês não perdoarem, não serão perdoados. Há oitocentos anos, São Francisco de Assis também insistiria em sua bela prece: é perdoando que se é perdoado... Mas a maldade humana resiste a qualquer mudança. E o nosso desejo é imaturo e injusto, nos relaci­onamentos da vida. Não nos envergonhamos de dizer literalmente: perdoa-me e mata os meus inimigos.

O Saltério, apesar de sua beleza poética e ardente busca espiritual, repete essa forma viciosa de orar a Deus, como fica patente e até chocante neste salmo de Asafe que comento com você. O mesmo poeta que pede perdão e misericórdia, com as palavras que abrem esta meditação, quer de Deus a destruição de seus inimigos: derrama o teu furor sobre as nações que não te conhecem... Seja, à nossa vista, manifesta entre as nações a vingança do sangue que dos teus servos é derramado... Em uma palavra, o cacoete invencível no co­ração humano: perdoa-me e mata os meus inimigos.

Parece-me que há, pelo menos, três atitudes ou três modos de olhar os que julgamos faltosos. 
A primeira atitude é da impiedade, sem nenhum pudor. Justamente o que lemos no salmo de Asafe. Ficamos dentro da conhecida lei de talião: olho por olho, dente por dente. Foi por isso que Jesus radicalizou no Evangelho: quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra. E no caso da mulher surpreendida em ato condenado, todos se retiraram sem apedrejá-la, começando pelos mais velhos, que tinham uma folha corrida provavelmente mais pesada...

A segunda maneira de olhar o faltoso é com indiferença. Aparente­mente parece uma conquista, mas apenas uma conquista da nossa maldade. Bernard Shaw chega a dizer que a indiferença é pior que o ódio, porque é a essência da desumanidade. O outro é reduzido à condição de objeto em nossas manipulações.

A terceira atitude é a recomendada por Jesus, e está presente no pai-nosso, com absoluto destaque: olhar o faltoso com respeito e dignidade. Não se julgar melhor do que ele. Desejar para o outro o que também queremos para nós. Se for inevitável julgá-lo, que o façamos levando em consideração todo o contexto, que pode não justificar, mas pelo menos ajuda a entender as faltas e os delinquentes. É a chamada ética contextuai ou de situação, recomendada por Paul Lehmann.

É preciso nunca esquecer que, aos olhos de Deus, é bem pequena a distância que separa os que chamamos de santo ou de pecador. Se é que existe distância.

Jesus insiste:
Vocês orarão assim: perdoa-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos os que nos ofenderam...

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