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Mais perplexos ainda: — O que ele disse? Que esse pão era o corpo dele? Ele estava dando o seu próprio corpo para comer? Que paganismo é esse que contraria radicalmente a nossa lei? Moisés nos proibiu de comer vários animais porque eram impuros, que faria ele conosco se comêssemos carne humana? O que será de nós uma vez que o Império Romano pune com a morte quem pratica canibalismo.
Jesus aguça ainda mais a estranheza quando pega um cálice de
vinho, agradece a Deus novamente e diz: —
Bebam deste cálice, porque ele é o meu sangue derramado em favor de muitos para
remissão de pecados. Este sangue sela um novo acordo entre Deus e os homens. Eu
afirmo que nunca mais bebereis desse vinho, até quando eu beber com vocês o
novo vinho no Reino de meu Pai. Podemos entender o quanto essas palavras
eram subversivas. Todos ali eram judeus, e a simples ideia de tocar em sangue
já fazia a pessoa se tornar imunda por semanas. Não se podia sem se comer carne
mal cozida, porque ela continha sangue. A sugestão de beber o sangue era, desta
forma, inconcebível. Beber sangue humano, então, é absolutamente impossível alguém
supor.
Quando todos imaginavam que discutiriam a divisão de poderes
em um reino de glória, Jesus os assalta com absurdos sem conta. Somente a
loucura poderia fazer uma pessoa judia escandalizar sua religião desse jeito. Como
se explica? Talvez esse radicalismo todo tenha uma finalidade clara. Era para nunca
mais ser esquecido. Dali para frente, quem poderia esquecer o que ele fez? É
para que nós lembrássemos mesmo. Era para que nos lembrássemos de que ele
partiu seu próprio corpo e que derramou seu próprio sangue por amor a nós. Ele
queria que tivéssemos sempre na memória a realidade do seu ministério, das suas
palavras e do seu sacrifício.
Naquela noite, quando os discípulos comeram do pão e beberam
do cálice se sentiram mais perto de Jesus do que nunca. Sentiram que faziam parte
da vida de Jesus e que Jesus fazia parte da vida deles. Não tem explicação. Simplesmente
aconteceu. Ele compartilhou a si mesmo, e não fez isso somente com suas
palavras, seus milagres e suas atitudes, mas com o seu próprio ser, o que tinha
de mais íntimo. O pão quebrado e o vinho derramado foram servidos a todos. Todo
mundo estava em silencia. Não havia nada mais a dizer.
Foi aí que Judas se levantou e saiu. E pela porta aberta que
deixou atrás de si, todos puderam ver a escuridão e a morte que esperava Jesus lá
fora. Então, Jesus falou como nunca havia falado antes. Suas últimas palavras
foram também o seu último esforço para ajudá-los a compreender a significação
da sua vida. Elas eram comparáveis ao pão, ao vinho, ao corpo e ao sangue que
ele havia lhes dado. Elas personificavam o corpo e o sangue das suas últimas
preocupações para com aqueles que o seguiram. Sua voz agora era segura e
profunda: Amem uns aos outros. Assim como
eu os amei, amem também uns aos outros, Se tiverem amor uns pelos outros, todos
vão saber que vocês são meus discípulos. Assim se levantaram, cantaram um
hino e partiram para o Monte das Oliveiras.
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