O que GRAÇA? II

Abraão e Melquizedeque, Peter Paul Rubens
A graça de Deus sobre os seus eleitos
A palavra que sem dúvida melhor traduz o efeito produzido sobre o homem pela generosidade de Deus é a palavra bênção. A bênção é muito mais que uma proteção exterior; ela mantém em quem a recebe a vida, a alegria, a plenitude da força. Ela estabelece entre Deus e sua criatura um encontro pessoal, faz repousar sobre o homem o olhar e o sorriso esperançoso de Deus, a irradiação de sua face e da sua infinita graça: Nr 6.24-26  - O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz.


Essa relação tem algo de vital, diz respeito ao poder criador. Ao Pai pertence abençoar, e se a história de Israel é a história de uma bênção destinada a todas as nações, porque Deus é Pai e plasma o destino de toodos os seus filhos: Is 45.11 - Assim diz o SENHOR, o Santo de Israel, aquele que o formou: Quereis, acaso, saber as coisas futuras? Quereis dar ordens acerca de meus filhos e acerca das obras de minhas mãos? Eu fiz a terra e criei nela o homem; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens. A graça de Deus é o amor de um pai que tem zelo ao criar seus filhos, porque essa bênção é a do Deus santo, o vínculo que ela estabelece com seus escolhidos é o de uma consagração. A eleição é apelo à santidade e promessa de vida consagrada.

Israel, contudo, se nega a essa resposta filial, a essa consagração da vida e do coração: Como um poço que faz surdir a sua água, assim (Jerusalém) faz surdir a sua maldade. Deus então tem a ideia de fazer no homem aquilo de que o homem é radicalmente incapaz, e de fazer que o próprio homem seja o seu autor. De uma Jerusalém corrompida ele fará uma cidade justa, de corações incuravelmente rebeldes, ele fará corações novos, capazes de conhecê-lo: Jr 31.31 - Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Isto será obra do seu Espírito; será o advento de sua própria justiça no mundo

A graça de Deus se revelou em Jesus Cristo
A vinda de Jesus Cristo mostra até onde pode ir a generosidade divina: a ponto de nos dar o seu próprio Filho. A fonte desse gesto inaudito é aquele misto de ternura, fidelidade e misericórdia pelo qual Iahweh se definia e ao qual o Segundo Testamento dará o nome específico de graça, charis. O prenúncio da graça de Deus é quase sempre acompanhado de sua paz, sendo assim as grandes promessas aos semíticos do passado, associadas ao ideal tipicamente grego da charis faz a introdução de quase todas as cartas apostólicas e mostra que, para os cristãos, ela é o dom por excelência, aquele que resume toda a ação de Deus e tudo aquilo que podemos desejar a nossos irmãos.

Na pessoa de Cristo vieram-nos a graça e a verdade, nós as vimos, e, por isso, temos conhecido a Deus no seu Filho único. Assim como temos conhecido que Deus é amor, ao ver Jesus Cristo conhecemos que sua ação é graça. Embora a tradição evangélica comum aos evangelhos sinóticos não conheça o termo, está plenamente consciente da respectiva realidade. Para ela também, Jesus é o dom supremo do Pai entregue por nós. A sensibilidade de Jesus para com a miséria humana, sua emoção perante o sofrimento, traduzem a ternura e a misericórdia pelas quais se definia o Deus do Primeiro Testamento. E São Paulo, para encorajar os Coríntios à generosidade, lembra- lhes a liberalidade da graça de Jesus Cristo: II Co 8.9 - ...como ele, rico, se fez pobre por vós. (continua)

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