O texto escolhido por mim para hoje seria um trecho do livro Discipulado de Dietrich Bonhoeffer. Já estava com a compilação do texto original bastante adiantada quando, numa busca rápida no Google, para minha surpresa, vi que este mesmo texto havia sido postado no blog do bispo Macedo há dois dias. Antes de tudo quero deixar claro que não sou e nunca fui leitor desse seu blog e que a descoberta foi um mero acaso. Logicamente que não pude me privar de querer saber o que um texto tão claramente oposto às doutrinas fundamentais do neopentecostalismo fazia no seu blog, e algumas suspeitas imediatamente me assaltaram.
Bonhoeffer fez uma distinção entre esses dois aspectos da graça que podem, de certo modo, confundir os leitores menos familiarizados com o seu pensamento. Foi justamente este o atalho do qual o bispo Macedo (ou outra pessoa qualquer que tenha escrito por ele) se valeu. Quando Bonhoeffer diz que a graça barata é a maior inimiga da igreja e que o cristão precisa fazer sacrifícios por ela, não pude deixar de imaginar o quanto isso pode corroborar com o toma-la-dá-cá pregado por algumas igrejas e enfatizado sobremaneira na dele. Por isso é que precisamos ir mais fundo no conceito de graça barata que o pastor luterano, vítima do nazismo, nos deixou, e para tanto precisamos rever alguns desses conceitos:
Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado, sacramento malbaratado. Graça barata significa a graça como doutrina, como princípio, como sistema; significa perdão dos pecados como verdade geral, significa o amor de Deus como conceito cristão de Deus.
Nesta Igreja, o mundo encontra fácil cobertura para seus pecados para os quais não se tem remorsos e não se deseja dele verdadeiramente libertar-se. Estar sob a graça significa ter uma vida diferente da que se tinha sob o pecado. Contudo, o cristão precisa fazer esse sacrifício, praticar a autonegação, renunciar a uma vida que o distinga da do mundo.
A graça barata é a graça que nós dispensamos a nós próprios. A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento; é o batismo sem a disciplina comunitária; é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados; é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.
Para finalizar:
A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o ser humano sai e vende com alegria tudo quanto tem; a pérola preciosa, para cuja aquisição o comerciante se desfaz de todos os seus bens; é o senhorio régio de Cristo, por amor do qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar; é o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo larga suas redes e o segue.
Nota-se aqui claramente que o sacrifício pregado por Bonhoeffer tem mais a ver com renúncia de paixões e atitudes do que propriamente a renúncia de bens. O evangelho é total. Ele declara que Jesus Cristo é Senhor de todas as coisas ou não é evangelho. De nada adianta fazer oferta a Deus com dívidas morais contra o próximo, assim como de nada vale dar o dízimo da hortelã, do endro e do cominho sem a pratica da justiça.
2 comentários:
Meu caro amigo pastor,
Parabéns pela abordagem deste tema.
Mas, ao mesmo tempo, você me deixou muito confuso. Hoje você fala, claramente, DA NOSSA PARTICIPAÇÃO EFETIVA na obtenção da GRAÇA, aqui denominada de preciosa. Eu sempre defendi este aspecto, apenas não fazia esta didática distinção: preciosa x barata. Você já disse que não precisaríamos fazer NADA neste sentido de receber a graça. Não entendi, " o cristão precisa fazer esse sacrifício..." OU NÃO FAZER NADA ?
A questão do fazer ou não fazer está relacionada s dois momentos distintos. Não podemos e não temos que fazer nada para garantir ou conquistar a salvação, ela pe um dom gratuito, de graça, de Deus. Para a consumação do Reino de Deus, temos que fazer tudo ao nosso alcance e abrirmos mão de qualquer coisa em seu favor.
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