O homem surdo, anônimo X século |
Ephphathá. Que palavra mais estranha é essa? Não é grega, porque se
fosse não haveria necessidade alguma de Marcos dar o seu significado em grego.
Não deve ser hebraica também, pelo mesmo motivo. Deve ser aramaica, mas isso ninguém
pode afirmar com certeza. Porém, três coisas sobre ela são mais ou menos certas:
ela serve como eficiente trava-língua, o seu duplo ph pode ser entendido como
um refluxo que nos mostra a dimensão exata do suspiro que Jesus deu antes de
pronunciá-la, ou se quisermos considerar o seu bom humor diríamos que ele estava
mesmo era imitando o gago.
A percepção que as pessoas tinham dos gestos e das expressões faciais de Jesus que nos foram transmitidas através dos evangelhos parecem querer mostrar as diferentes formas com que ele se conduzia no seu ministério. A veemência com que se dirigia aos fariseus hipócritas; a permissividade com que tratava as crianças; a compaixão com que olhava para os pecadores, mesmo estando eles no seu clímax de separação, como foi o caso de Maria Madalena, da qual expulsou sete espíritos ou da outra mulher que fora flagrada em adultério; a rigidez do semblante quando o assunto era sobre o seu confronto decisivo em Jerusalém; a sua concentração quando realizava um milagre. Enfim, atitudes completamente diferentes da arrogância com que depositamos segurança em nossas igrejas e doutrinas, ou das caras lavadas que fazemos quando queremos pedir a Deus algo que não receberia o aval de Jesus, por serem pedidos pessoais e egoístas.
A percepção que as pessoas tinham dos gestos e das expressões faciais de Jesus que nos foram transmitidas através dos evangelhos parecem querer mostrar as diferentes formas com que ele se conduzia no seu ministério. A veemência com que se dirigia aos fariseus hipócritas; a permissividade com que tratava as crianças; a compaixão com que olhava para os pecadores, mesmo estando eles no seu clímax de separação, como foi o caso de Maria Madalena, da qual expulsou sete espíritos ou da outra mulher que fora flagrada em adultério; a rigidez do semblante quando o assunto era sobre o seu confronto decisivo em Jerusalém; a sua concentração quando realizava um milagre. Enfim, atitudes completamente diferentes da arrogância com que depositamos segurança em nossas igrejas e doutrinas, ou das caras lavadas que fazemos quando queremos pedir a Deus algo que não receberia o aval de Jesus, por serem pedidos pessoais e egoístas.
Mas voltemos ao ephphathá
que Jesus ordenou naquela ocasião e que as diversas interpretações traduzem por
abra-te, abra-se, que seja aberto ou até mesmo abre logo. Podemos em um rápido
olhar perceber a quem a ordem se dirige? Vamos tentar.
Ao surdo gago de imediato, é claro, pois se trata
primeiramente de um milagre, de uma cura e de uma libertação. Abra-te para o
mundo e expresse toda a angústia acumulada por anos de isolamento. Contudo, mais
importante ainda que o milagre foi a sua declaração. Ao se dirigir ao gago de
uma forma a imitar a sua gagueira, fez por incluí-lo, ainda no seu estado
original, na salvação/cura do Reino dos Céus, pois esse Reino não foi estabelecido segundo os
nossos critérios e nem fundamentado sobre as nossas expectativas. Jesus estava
querendo dizer que os cegos, coxos, surdos, mudos e todos os discriminados pela
cultura da beleza física eram bem vindos ao Reino de seu Pai, ainda que não tivessem sido curados.
Jesus diz também aos presentes: abram-se-lhe as
possibilidades. O Reino de Deus serve de referência não somente para o
ministério da igreja no mundo. Ele é referência para o próprio mundo. Se algo
que foi tão divinamente elaborado e criado por uma mente infinitamente superior
a nossa recebe com primazia aqueles que aos nossos olhos são falhos e imperfeitos,
por que não haveriam de receber melhor ainda as nossas instituições igualmente falhas
e imperfeitas?
Mas Jesus também se dirige a todos nós: abram-se para as novas realidades. A
igreja de hoje está vivendo um misto de realidades pagãs. Ou ela se inclina para
reverenciar alguns poucos ídolos que surgiram recentemente do nada absoluto,
pois nenhuma vitória autêntica do evangelho têm para contar, ou rumina ainda os
antigos ídolos que marcaram um passado nitidamente mais glorioso que o nosso
presente, contudo, ainda imperfeito. Abram-se para ouvir o que as pedras estão
clamando e para serem sensíveis aos apelos daqueles que até o dia de hoje encontraram
acolhida apenas e unicamente no Reino de Deus.
Quem sabe agindo assim um dia nós como igreja e como
indivíduos poderemos também gritar para nós mesmos e para o mundo: Ephphathá, após um longo e marcante
suspiro aliviado?
Um comentário:
Caro amigo Sergio,
Meu comentário de ontem termina com uma pergunta. Agradeço a resposta.
Abração.
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