O que é PRÓXIMO?

Bom samaritano, Giacomo Conte
No Primeiro Testamento, o termo próximo, que traduz com bastante exatidão o termo grego plesion, corresponde imperfeitamente ao termo hebraico rea‘ que lhe está subjacente. Não deve ser confundido com o termo irmão, embora muitas vezes lhe corresponda. Etimologicamente ele exprime a ideia de se associar a alguém, de entrar em sua companhia. Contrariamente ao irmão, ao qual se está ligado por relação natural, o próximo não pertence à casa paterna; se meu irmão é um outro eu mesmo, meu próximo é um outro que não eu, um outro que para mim pode continuar a ser outrem, mas que pode também se tornar um irmão.

Pode assim criar-se um vínculo entre dois seres, seja de modo passageiro: Lv 19.18 - Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o SENHOR. Seja de modo durável e pessoal, em virtude da amizade, do amor, da camaradagem ou até devido à falta de todos esses: Jó 30,28s - Ando de luto, sem a luz do sol; levanto-me na congregação e clamo por socorro. Sou irmão dos chacais e companheiro de avestruzes.

Nos mais antigos códigos não se falava de irmão, mas de outrem, apesar dessa virtual abertura para o universalismo, o horizonte da Lei mal transcende o povo de Israel. Depois, com a consciência mais viva da eleição, a Lei de santidade confunde outrem e irmão visando com isto só os israelitas: Lv17.3 - Qualquer homem da casa de Israel que imolar boi, ou cordeiro, ou cabra, no arraial ou fora dele. Não que tenhamos nisso um estreitamento do amor ao próximo para amor só dos irmãos pelo contrário, esses textos querem estender o mandamento do amor equiparando ao israelita o estrangeiro residente.

Depois do exílio, aparece uma dupla tendência. De um lado, o círculo dos próximos se restringe: o dever de amar visa somente o israelita ou o prosélito circunciso. Mas, de outro lado, quando os Setenta traduzem o hebraico rea' pelo grego plesion, eles separam outrem de irmão. O próximo que deve ser amado é outrem, quer seja ou não um irmão. Desde que dois homens se encontram, são o próximo um para o outro, independentemente de suas relações de parentesco ou do que pensam um do outro.

No Segundo Testamento, quando o escriba perguntou a Jesus: Quem é meu próximo?, provavelmente ele ainda equiparava tal próximo a seu irmão, membro do povo de Israel. Jesus, porém, irá transformar definitivamente a noção de próximo.

Primeiramente, ele consagra o mandamento do amor: Amarás o próximo como a ti mesmo. Ele não só concentra os outros mandamentos neste, senão que o liga indissoluve­mente ao mandamento do amor de Deus: Mt 22.39s - O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Na trilha de Jesus, Paulo declara solenemente que esse mandamento cumpre toda a Lei: G1 5.14 - Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, por que ele é o resumo dos demais. Tiago, contudo, já o qualifica de lei régia: Tg 2.8 - Se vós, contudo, observais a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem.

Em seguida, Jesus universaliza esse mandamento: deve-se amar aos adversários, e não só aos próprios amigos: Mt 5,43 - Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; isto supõe que o indivíduo derrubou em seu coração todas as barreiras, tanto que o amor pode atingir o próprio inimigo.

Enfim, na parábola do bom samaritano chega Jesus às aplicações práticas. Não compete a mim decidir quem é meu próximo. O homem em dificuldades, fosse embora meu inimigo, me convida a tornar-me seu próximo. O amor universal guarda assim um caráter concreto: é certo que irá se manifestar à frente a todo homem que Deus põe no meu caminho.

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