Sermão da Montanha, Bertalan Pór (1880-1964) |
Em um dos livros dos quais tive o orgulho de escrever, uma pergunta domina o seu contexto do princípio ao fim: Jesus sabia que ele era o Filho de Deus? Já falei sobre isso há algum tempo, contudo, continuo percebendo que a resposta dada à pergunta continua sendo a mesma: um belo e sonoro sim. Levo em consideração que uma pergunta como essa pega qualquer um de surpresa, simplesmente pelo fato de que entre os que nele creem ela é totalmente descabida, pois parece não haver qualquer dúvida quanto a isso, e entre os que não creem é uma pergunta que jamais chegaria a ser formulada. Depois de algum tempo passei a perceber que esta não é a única forma de se fazer tal pergunta, posto que nela estão embutidas várias outras perguntas que jamais ousamos fazer, como também esbarra em alguns assuntos sobre os quais, a todo custo, evitamos falar.
Muito recentemente fui questionado por ter afirmado que a finalidade precípua de Jesus não era a de fazer milagres, e que estes aconteceram como consequência, e não como causa. Esta questão me foi respondida com seguintes questões:
1- Por que então ele fez milagres?
2- Não seria mais adequado afirmar que Jesus veio implantar definitivamente o Reino de Deus e que para isto teve que fazer milagres?
Não quero parecer um visionário, mas no meu entender essas perguntas estão diretamente ligadas à pergunta anterior. Uma vez que as pessoas deduzem com argumentos bem sólidos, que tanto a capacidade quanto a necessidade de Jesus fazer milagres estavam intrinsecamente ligadas ao seu ministério terreno, mesmo que o próprio Jesus tenha deixado bem claro que veio para anunciar, pregar e proclamar o Reino de Deus. Isso pode ser percebido também na sua pré-disposição de fazer um ministério itinerante sem ter qualquer lugar como referência, uma prática que um curandeiro da sua época jamais pensaria em adotar. Vejam, por exemplo, que as pessoas se dirigiam para um lugar específico de deserto, pois sabiam que era lá que João Batista estava. Isso sim é bom para o “negócio”. Jesus, por seu turno, fez o contrário, movido pela irrevogável decisão de visitar cada cidade e cada aldeia, que era onde se encontravam os Perdidos da Casa de Israel.
Não sei nas outras religiões, mas tudo no Cristianismo assume proporções descomunais, que se desdobram em questões intermináveis. Nunca é simplesmente uma questão de crer ou não crer. Nada se esgota dentro de um ambiente restrito. Jamais os fatos assumem características domésticas e propícias somente a uns poucos iniciados. Até mesmo a obrigatoriedade ou não de Jesus fazer milagres, um tema que deveria ser discutido apenas entre acadêmicos, não tardou em ganhar as esquinas, ruas e avenidas, tanto no tempo dele quanto no nosso tempo. Não posso acreditar que a maioria dos mais de cinco mil homens que estavam presentes no famoso Sermão da Montanha, foi lá apenas para ouvi-lo e não pelos seus milagres. Assim com também não posso crer que a superlotação de algumas igrejas seja causada por pessoas interessadas em ouvir as boas notícias que o evangelho tem a dar.
O reflexo de tudo isso hoje é um a busca frenética pelos milagres, mas não como uma bênção ou mesmo uma dádiva não merecida. O movimento já assumiu a forma de retribuição obrigatória por um sacrifício dedicado a Jesus, sacrifício esse que pouquíssimas vezes chega a ser usado em favor do Reino que ele veio implantar. E é isso que tem feito a diferença. As pessoas não têm mais a preocupação de averiguar onde e em que proporção as suas ofertas estão sendo empregadas. Não importa nem mesmo se elas estão prestando um desserviço ao evangelho. Importa sim se o milagre vai ou não acontecer, se a unção será ou não derramada. Não é mais uma questão de consciência, de sensação de dever cumprido, de tentar ajustar as contas com Deus. Bem sintetizou o bispo Macedo em uma reunião com os seus pastores:Entendeu como é? Se quiser (dar), amém! Se não quiser, que se dane! Ou dá ou desce.
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