O que é JEJUM?

O fariseu e o publicano, http://thegospelcoalition.org
O jejum consiste em se privar de qualquer alimento, qualquer bebida, em certas situações das relações sexuais, durante um ou mais dias dum pôr do sol até o outro. Os ocidentais não lhe dão muito valor, preferem observar a moderação no comer e no beber ao jejum, pois o consideram perigoso à saúde e não veem a sua utilidade espiritual. Esta é uma atitude oposta à encontrada em quase todas as religiões quando se pratica a ascese, a purificação, o luto e antes de uma súplica específica. Embora a Bíblia coincida, neste ponto, com as demais correntes religiosas, ela dá ao jejum o mesmo peso que dá a oração e a esmola, pois todos são atos que traduzem humildade e esperança.

Sendo o homem alma e corpo de nada adiantaria viver uma religião puramente espiritual. A alma para ser tocada necessita de atitudes do corpo. O jejum faz isso quando o corpo privado do essencial, faz com que a alma se humilhe diante de Deus. Mas o jejum não visa alcançar um estado de exaltação psicológica ou religiosa, tais estados são alcançados justamente quando acaba o jejum, e o indivíduo recebe o dom de Deus através do alimento. Quando se considera o alimento um dom de Deus, a privação dele é um gesto de fé, e o mesmo vale para a abstinência sexual. É nesta atitude de dependência e abandono que a pessoa se volta para Deus antes de qualquer coisa, seja o perdão, a cura, um lamento ou uma súplica. As ocasiões podem variar, mas a humildade para aceitar a resposta de Deus deve prevalecer sobre todas elas.

A liturgia judaica celebrava o Grande Jejum no dia da Expiação. Praticá-lo era uma condição para ser povo de Deus. Os fariseus, os discípulos de João Batista e os judeus piedosos jejuavam duas vezes por semana, procurando, desse modo, cumprir elementos expressos na Lei e nos Profetas. Mas Jesus não prescreveu nada disso. Não porque não valorizasse a justiça da Lei ou porque queria aboli-la, mas porque considerava que a renúncia pelo evangelho e pelo Reino de Deus deve ser mais abrangente do que a de um simples jejum. Ela deve ser a renúncia de todo o ser: Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. (Lc 9.23)

Jesus também observava que a prática do jejum não está livre de certos perigos. O perigo do formalismo denunciado pelos profetas, do orgulho e da ostentação, citados por ele no Sermão da Montanha. Para ser agradável a Deus, o jejum deve vir acompanhado de amor ao próximo, incluir uma busca da verdadeira justiça, e estar acompanhado da esmola e da oração. É por amor a Deus que se deve jejuar. Um amor que se oculta na intimidade do coração, e tem como resposta a benção que também está oculta aos olhos dos outros.

Quanto à prática do jejum, a Igreja Primitiva conservou os costumes do Judaísmo, realizados no Espírito que Jesus definiu como seu sucessor. Os atos apostólicos mencionavam celebrações cultuais que incluíam jejum e oração: E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido. (At 14.23) Paulo, em seu ministério, não se contenta apenas em passar fome e sede quando as circunstâncias o exigiam: nos casos das prisões e perseguições. Ele acrescenta também a prática de repetidos jejuns: Pelo contrário, em tudo recomendando-nos a nós mesmos como ministros de Deus: na muita paciência, nas aflições, nas privações, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns. (II Co 6.5)


A Igreja permaneceu fiel à tradição do jejum, procurando pôr os fiéis numa atitude de abertura total à graça de Deus. Jesus, ao defender seus discípulos, que não jejuavam, das acusações dos fariseus, que jejuavam, disse: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que estiver presente o noivo, não podem jejuar. (Mc 2.19) Com isso ele quis dizer que o verdadeiro jejum é o da fé. Enquanto durar a sua ausência, a busca esperançosa deve ser incessante. Esperamos que o noivo da Igreja se revele, e que Deus seja tudo em todos. Até lá, há bastante lugar para a prática do jejum penitencial na Igreja.

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