Sermão também faz tipo

A pregação de Noé, Harry Anderson (1906-1996)
Certa vez, ao pregar em uma pequena igreja, percebi que a congregação era composta apenas de membros e que não havia entre os presentes visitantes ou pessoas estranhas ao culto cristão. Disse que ia aproveitar aquela oportunidade para fazer um “sermão para crentes”, referindo-me ao tipo de pregação que eu ia praticar naquela hora. Ao terminar fui interpelado por uma jovem com a seguinte pergunta: Existe mais de um tipo de sermão? Minha vontade era dizer um enfático sim, mas dado aos sermões que podem ser observados com frequência nas televisões e na maioria das igrejas que fizeram opção pelo sistema neopentecostal de culto, tive que me conter, dar algumas explicações, para finalmente poder responder positivamente aquela pergunta.

O fato é que, por incrível que pareça, há uma variedade bem vinda de sermões, e que deveria ser utilizada em toda a sua extensão durante os cultos dominicais. Sem querer dar uma aula sobre o assunto, mesmo porque fui aluno de reconhecidos monstros da homilética, como Amir dos Santos, Nathanael Inocêncio e Jonas Rezende, dos quais não sou digno sequer de desatar as sandálias, quanto mais me ousar fazer o que eles tão bem fizeram, passo a fazer aqui um breve resumo do que aprendi sobre esta bendita variedade de tipos de sermão.

Os compêndios de homilética, ou a arte de falar em público, afirmam que há três tipos de sermão: sermões tópicos, sermões expositivos e sermões textuais.

Sermões tópicos são aqueles que versam sobre um assunto ou tema específico e dele não se desviam. Podemos dar como exemplo os sermões que falam sobre santidade, oração, amor ou qualquer outro tema abordado isoladamente. É o tipo de sermão que exige um conhecimento razoável de Teologia Sistemática, uma vez que o pregador deve se valer de toda a Bíblia, pois os sermões tópicos precisam encontrar os seus argumentos nas várias etapas da história da salvação e conciliá-los satisfatória e convincentemente.

Sermões expositivos são aqueles que desenvolvem trechos das Escrituras em uma unidade de pensamento. O pregador pode e deve apresentar outros textos bíblicos, mas a sua referência sempre será o texto indicado para a meditação. É o tipo de sermão que exige uma boa quantidade de material auxiliar, pois o texto em questão deve ser aprofundado o quanto mais, para que ele revele a sua mensagem central, que na maioria das vezes está escondida por trás de palavras diametralmente opostas a ela. É o sermão que exige uma luta tão ferrenha como a de Jacó em Peniel.

Sermões textuais são aqueles que são desenvolvidos a partir de um único versículo da Bíblia. São geralmente usados para públicos que dispõem de pouca capacidade de atenção e abstração, como crianças e idosos. São muito utilizados também em cerimônias fúnebres, casamentos ou cultos de ação de graça. Esse é um sermão temático, cujos argumentos de maior relevância vem unicamente do versículo proposto. Alguns outros versículos podem ser citados, desde que estejam relacionados ao versículo central e ao tema abordado para que não haja divagações nem necessidade de elucubrações profundas devido à brevidade da pregação e ao público alvo.

Mas eu arriscaria dizer que há subdivisões nessas classes. Podemos citar sermões doutrinários, evangelísticos e até parenéticos. A variedade é grande, não razão alguma para que o pregador fique constantemente enaltecendo as suas virtudes, o valor de seus familiares ou mesmo a grandeza e operosidade da sua igreja. Importa que ele cresça e eu diminua, é a cláusula pétrea instituída por João Batista.

O bispo Almir dos Santos dizia que o sermão não é para agradar ninguém, e sim para converter. Para ele havia apenas duas maneiras de se sair uma pregação cristã: chutando o balde ou convertido. Contudo, vou continuar fazendo sermões para crentes tantos quanto puder. Nada deveria dar mais prazer ao pregador sério do que falar para uma congregação composta de bereanos: aquelas pessoas da cidade de Bereia que receberam as palavras de Paulo com avidez, mas que ao mesmo tempo recorriam às Escrituras para comprovar a veracidade da sua pregação. (conf. At 17.10s)

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