A quem honra, honra.

Jesus cura o servo do centurião, Paolo Veronese em 1543
Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer. Sl 16.3

A Bíblia traz em seu conteúdo fundamentos que nos fazem ver claramente diferença que existe entre a admiração e a veneração. A mim, sempre pareceu que este conceito nunca foi plenamente entendido nas igrejas que professam o protestantismo tradicional. Pelo menos aqui no Brasil, onde desde muito cedo, por razões absurdas de ambas as partes, os membros das igrejas protestantes se identificaram mais por não fazer o que os católicos faziam do que propriamente por suas convicções. Portanto, não só as manifestações de admiração foram restringidas a frases proferidas entre dentes, como também o conceito de veneração foi execrado aos extremos. Torno a trazer a lembrança do famoso quadro dos dois caminhos, uma gravura tosca, de um mau gosto evidente, mas que tinha lugar de destaque na parede mais visível da sala principal de todos os lares evangélicos.

O quadro, que foi idealizado por um protestante em um país protestante, tinha por finalidade advertir aos nascidos sob aquela denominação que não estavam cumprindo com os seus votos para com a igreja. Serviu mesmo para dizer que qualquer um que agisse como católico, simplesmente fazendo as coisas que o Catolicismo permitia, tais como: fumar um cigarrinho aqui, beber uma cachacinha ali ou dançar num bailinho vez por outra, caminhava a passos largos para o inferno.

Este também era o caminho de quem exagerasse na admiração de outro ser humano a ponto desta atitude poder ser confunda ou interpretada como veneração. Ainda não é nesta postagem que vou dar a minha opinião sobre como e porque os católicos chegaram a venerar os grandes homens e mulheres do Cristianismo. Também não vou cair na deliciosa tentação de descer o cacete nos pop star da música gospel, nem nos animadores de auditório que se dizem pastores e muito menos nos mercadores da fé que enriquecem às custas da fé ignorante do nosso povo. Pretendo me concentrar tão somente no nosso comedimento ao prestar uma homenagem, reconhecer um valor ou mesmo fazer um elogio a uma pessoa que reconhecidamente fez algo além do dever.

Paulo fez questão de dimensionar o relacionamento do cristão com outra pessoa em vários aspectos da vida. Quando ele escreveu aos romanos, disse exatamente isso: Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. Ele disse com todas as letras que o reconhecimento é algo que é devido tanto quanto um imposto ou o respeito. Como é que posso negar que tinha prazer na aula dada pelo falecido João Wesley Dornellas? Como não poderia exaltar no passado os sermões do rev. Almir dos Santos, assim como hoje os do rev. Jonas Rezende? Como não me alegraria em cantar no Coral Juvenil da Igreja Metodista de Vila Isabel, no Rio, ou ouvir o Coral Henrique Soares desta mesma Igreja?

O que nos faz ser tão reticentes nestas horas? Os salmos, como este citado acima, não se cansam de render graças pela manifestação do justo na sua justiça e do fiel na sua fidelidade. O livro de Jó teve como grande protagonista da fé em Deus um sheik árabe, de um povo que era inimigo histórico de Israel. O escritor da Carta aos Hebreus fez há quase dois mil anos uma homenagem aos seus heróis da fé que ainda é impensável nos dias de hoje. Ele disse que aqueles foram homens e mulheres dos quais o mundo não era digno. Mas vem da boca do próprio Jesus as maiores manifestações de admiração. O mais curioso é que nenhum desses elogios foi dirigido a um discípulo próximo, ou mesmo a um judeu notável. Exceção feita a João Batista, todos foram dirigidos a estrangeiros que não seguiam a fé de Israel. A mulher cananeia ela disse: Grande é a tua fé. Com o centurião foi ainda mais longe: Nem mesmo em Israel vi fé como esta.

Seria possível que os discípulos próximos de Jesus fossem comedidos em suas homenagens tal qual como somos hoje, e que Jesus para ensinar-lhes o dever do reconhecimento fez com que sentissem na pele a dissabor que encerra um esforço não reconhecido?

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