Moisés e Aarão perante Faraó, Jean Dinteville (1498-1554) |
A Bíblia descreve na história dos dois irmãos, Moisés e Aarão, uma situação que lança luzes reveladoras sobre qual é o verdadeiro sentido que o tempo da Quaresma deveria ter para a igreja. Moisés estava sozinho no monte Sinai e Aarão com o povo no deserto. Em rápidas palavras poderíamos dizer que Moisés estava esperando as ordens para a marcha que mudaria a história da humanidade, e Aarão tentando contornar os problemas de um povo desnorteado. O contraste moral e espiritual entre eles é ainda mais significante. Moisés estava isolado, abrindo seu coração diante de Deus por quarenta dias a espera de uma manifestação sua. Embaixo, o povo, sem entender a razão da demora de Moisés, já começando a achar que errou ao sair do Egito, pois lá tinham panelas de carne e pão para se fartar.
Eles não queriam um Deus invisível que os fazia esperar, mas deuses como tinham os egípcios, que podiam ser visto e tocados. Afinal, estes deuses tinham feito grande sucesso, pois transformaram o Egito na maior potência da época. Aarão era um político, e fez exatamente o que o povo queria que fosse feito. Um simples não evitaria uma enorme tragédia, mas ainda assim, me é muito difícil julgar esta atitude de Aarão. Como bom brasileiro, eu sei da dificuldade de se dizer não. Quase ninguém está pronto para dizer não.
Eles não queriam um Deus invisível que os fazia esperar, mas deuses como tinham os egípcios, que podiam ser visto e tocados. Afinal, estes deuses tinham feito grande sucesso, pois transformaram o Egito na maior potência da época. Aarão era um político, e fez exatamente o que o povo queria que fosse feito. Um simples não evitaria uma enorme tragédia, mas ainda assim, me é muito difícil julgar esta atitude de Aarão. Como bom brasileiro, eu sei da dificuldade de se dizer não. Quase ninguém está pronto para dizer não.
O problema se instaura quando Moisés desce do monte, vê o bezerro de ouro e pergunta a Aarão: Que te fez este povo para cometeres tão grande pecado? É aí que Aarão dá a resposta mais esfarrapada que poderia: Então, eu lhes disse: quem tem ouro, tire-o. Deram-mo; e eu o lancei no fogo, e saiu este bezerro. Parece coisa de criança. Parece que Aarão não sabia o que estava fazendo. Parece que tudo foi consequência do destino, afinal, quando se joga ouro no fogo, logo aparece um bezerro de ouro pronto e acabado. Alguém duvida que esta ideia já existia? Que eles tinham artífices prontos para executá-la? Que eles já tinham um molde? Aquele ídolo não foi um simples acidente como Aarão disse. Cinismo é o que move o mundo civilizado, as novelas estão aí
para provar o que digo. Nelas, ninguém quer se responsabilizar pelos seus atos.
Talvez seja isso que os escritores tentaram nos dizer. O mundo é deste jeito,
ninguém assume nada. Estamos vivendo dias ruins como o que levaram o autor do
Eclesiastes a dizer: Vi ainda
debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória,
nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos
inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso. (Ec 9.11)
Ninguém sabe o que sairá do fogo. As pessoas jogam o seu
ouro lá e esperam que aconteça de tudo, até um bezerro pode sair. Vivemos em um
mundo onde a disciplina, a lealdade e a integridade não velem nada. Até o
universo é fraudulento, estão sempre dizendo que ele vai acabar, mas ele
insiste em continuar existindo. Por isso a pergunta: Como podemos viver num
mundo onde o esforço não é premiado e o mal não é punido? Se nada importa,
então tudo é válido. Podemos todos ser brincalhões como Aarão até o dia em que
aparecer um profeta como Moisés e detonar a nossa fantasia. Como nós precisamos
de um profeta como ele para desfazer as ilusões em que vivemos, e fazer a mesma
coisa conosco.
É bem certo que todos nós gostaríamos de receber mais do que recebemos e de possuir mais do que possuímos, mas alguém já se perguntou o que é que estão realmente recebendo aqueles que pensam que estão recebendo muito mais do que precisam? No sermão do monte fez três vezes uma declaração intrinsecamente julgamental: Eles já receberam a sua recompensa. No segmento desta meditação falaremos sobre elas. (continua)
É bem certo que todos nós gostaríamos de receber mais do que recebemos e de possuir mais do que possuímos, mas alguém já se perguntou o que é que estão realmente recebendo aqueles que pensam que estão recebendo muito mais do que precisam? No sermão do monte fez três vezes uma declaração intrinsecamente julgamental: Eles já receberam a sua recompensa. No segmento desta meditação falaremos sobre elas. (continua)
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