O que é PASTOR?

O triunfo de Davi, Nicolas Poussin
Profundamente enraizada na experiência dos nômades do Oriente antigo esta palavra difere completamente da sua metáfora que empregamos hoje, pois possui sentidos contraditórios e distantes da autoridade que atualmente é exercida sobre as pessoas. No passado ele era aquele destemido guardião capaz
de defender as suas ovelhas contra as feras, e que ao mesmo tempo era um delicado e versátil conhecedor do estado e das necessidades de cada uma delas. Era quem as tratava como suas filhas, carregando-as nos braços quando necessário, conduzindo-as aos pastos tranquilos e fartos, onde poderiam alimentar-se e crescer física e numericamente. Contudo, o tempo tratou de modificar suas responsabilidades como também os conceitos que se tinham deles.

No Primeiro Testamento são raras as vezes em que Deus recebe este título: duas vezes no Gênesis e duas vezes nos Salmos. O título é normalmente dado àquele que há de vir em seu nome. Muito embora os hebreus sempre se considerassem o rebanho de Deus, é aos seus servos que Deus confere a função de pastoreio, pois Israel é semelhante a uma ovelha renitente, que está sempre pronta a desgarrar-se da sombra protetora de Deus. Ele confia aos seus servos a responsabilidade de reuni-las, apascentá-las e de guiá-las pela mão de volta ao redil onde estarão seguras.

Os chefes de clãs e juízes do povo também recebiam este título, sendo que o rei Davi, na antiguidade, foi considerado o pastor por excelência. A partir dele, com exceção de Isaías que remete tal glória a Jessé, o pai deste rei, todos os profetas direcionarão a sua mensagem a um pastor que será tirado da sua linhagem e que não somente reunirá as ovelhas dispersadas pelos opressores, mas que conduzirá Israel à hegemonia que possuía na época deste rei. Tudo isso porque as autoridades desta nação negligenciaram a sua principal tarefa, que era de pastorear o povo.

No tempo de Cristo os pastores eram severamente julgados, pelo menor deslize eram condenados com penas destinadas aos ladrões e assassinos, e eram geralmente oriundos das classes inferiores. No entanto ainda guardavam na memória a profecia do pastor do futuro, que viria principalmente para os pequeninos, dentre estes os publicanos, prostitutas e pastores. São eles os primeiros a receber de bom grado a mensagem do evangelho, uma nova ordem de valores em que o serviço prestado pelo pastor se tornará imprescindível.

Nos outros escritos do Segundo Testamento Jesus é apresentado com o pastor esperado por todos e predito nas profecias. Paulo prega exaustivamente que Jesus é superior a Moisés, pois ele é a consumação de todas as promessas que Deus fez ao longo da história de Israel, inclusive aquelas que foram feitas ao próprio Moisés. Promessas que agora extrapolam os limites geográficos e consanguíneos do povo judeu, e alcança com igual intensidade os gentios, os pagãos e os inimigos mais odiados de Israel. Da mesma forma que Jesus é o Pastor dos pastores, ele também é o Rei dos reis, em quem habita a plenitude da divindade e a expressão maior da autoridade, tanto no céu como na terra.

O evangelista João pinta Jesus segurando um enorme cajado, à sombra do qual os rebanhos de diversas partes do mundo se reunirão para o grande banquete de Deus. Para João o pastoreio do Bom Pastor vai além de tudo o que se podia esperar do pastor prometido a Israel. Ele também apascenta, alimenta, guia e arrisca a sua vida pelas ovelhas, mas faz o impensável até então: ressuscita para que as suas ovelhas não experimentem para sempre a morte. Além de dar a sua própria vida, o pastor Jesus dá às suas ovelhas uma nova vida, em que as mágoas, dissabores e derrotas do passado serão completamente esquecidos, e uma nova oportunidade será dada.

O bom pastor também inaugura a Igreja que dá vista ao cego, acolhe o desamparado, alimenta o faminto, veste o nu e acode o aflito. A igreja que a exemplo do Bom Pastor deve buscar até encontrar a ovelha desgarrada, transtornar o mundo até encontrar a dracma perdida e quebrar todos os conceitos da lei e da religião para receber de volta o filho que se volta para ela arrependido. Esta função do pastor deve ser remunerada, é claro, mas não gratificada e não glorificada, porque a verdadeira recompensa e glória de um pastor ou pastora não estão nesta vida nem neste mundo.

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