O que é CONFISSÃO?

Jesus e a adúltera, Gabriël Metsu (1629-1667)
O que na linguagem comum é uma forma de penitência, na tradição cristã é a proclamação da grandeza de Deus e de seus atos maravilhosos em relação à nossa insignificância. A confissão é um ato essencial ao homem de fé, e não está necessariamente ligada ao conhecimento prévio dos inumeráveis feitos de Deus, mas pressupõe uma abertura de aceitação a estes feitos, e aí sim ao conhecimento e a uma reação de tomada de consciência e à ação de graças. A confissão é dirigida diretamente a Deus, diferente do testemunho que é dirigido exclusivamente aos homens.

Os antigos tinham na confissão a oportunidade de dar graças, louvar e bendizer tudo aquilo que tem como ponto de partida a ação de Deus, e a descrição destes atos constituis-se no elemento central da confissão. As formas mais antigas começavam sempre pela lembrança da libertação do cativeiro egípcio, dos patriarcas e das promessas feitas aos antepassados. Era um breve relato do plano salvífico de Deus que terminava sempre com um ato de fé naquele que era o Rochedo, a Força e a Salvação. O Judaísmo era fiel a essa tradição e a cada dia confessava a sua fé fundamentado-a em trechos do Pentateuco, o que fazia com que a confissão um relato histórico de transmissão de fé e não uma reflexão filosófica sobre a natureza de Deus e dos objetivos por trás das suas ações. A confissão de pecados era o reconhecimento de que todas as faltas eram cometidas contra Deus, mesmo a falta contra o próximo. A retratação exigia que o pecador reconhecesse individual ou coletivamente os atos praticados contra Deus, feito isso, o perdão era concedido e o pecador era salvo. Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei. Disse: confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado - Sl 32.5.

A fé cristã acrescentou elementos novos à antiga confissão de pecados. A partir de então a excelência da grandeza de Deus não se manifestava mais nos atos poderosos do Êxodo, mas na comissão de Jesus Cristo em libertar e salvar não apenas um povo, mas toda humanidade. Confessar a Deus é essencialmente confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus encarnado. As confissões de Pedro e do cego de nascença afirmam que a fé não vem de lembranças do passado, mas de uma experiência viva com o autor e consumador da fé. É a partir dessa experiência que o homem reconhece que Jesus é o único Salvador, o Juiz do mundo e o Sumo Pontífice, mas ainda não é bastante reconhecer e guardar esta palavra permanentemente em nós, é preciso que ela seja confessada. Apesar das perseguições é preciso confessá-la, como fez Pedro, diante dos tribunais, diante do martírio, como fez Estevão, e diante das autoridades, como fez Paulo. Aquele que negar Jesus nessas circunstâncias será negado por ele diante do Pai: Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos – Mc 8.38. Apesar de termos esta responsabilidade, a Bíblia nos diz que a confissão é um eco do Espírito Santo agindo em nós, e que nestas circunstâncias, apenas nestas circunstâncias, o Espírito Santo falará por nós: E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós – Mt 10.19-20.

Para o cristão a confissão de pecados deve ser acompanhada do arrependimento e da reparação do mal cometido sempre que for possível, mas deve também preceder a certeza de que Deus em Cristo realmente perdoa. O pecador deve, como Zaqueu, devolver o que não lhe cabe por justiça, reconhecer-se indigno, como o centurião e não tentar esboçar qualquer defesa, aguardando em silêncio pela sentença, como a mulher adúltera.

Confessar que a fé no Deus que salva, que tem poder para nos limpar de todo o pecado e que ainda que indignos fomos imerecidamente alcançados pela sua graça, é básico e essencial a todo aquele que confessa Jesus como Salvador. Mas quem sabe um dia esta revelação se torne tão plena em nós que alcançaremos a bênção de ouvir do próprio Jesus o que dele ouviu a mulher cananéia: A tua fé te salvou.

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