Pecado sem volta I

Basílica de Santo Antônio, em Pádua, Itália
Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfêmias que proferirem. Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo não tem perdão para sempre, visto que é réu de pecado eterno. Leia Marcos 3.28-29

O texto de hoje, pelo menos para mim, é o mais complexo de toda a Bíblia. Portanto, não alimentem esperanças de que ao seu final esta meditação apresente alguma fórmula revolucionária que leve à sua total compreensão. A proposta é relembrar algumas interpretações de estudiosos das Escrituras, que, embora se consolidem em excelentes exercícios teológicos, ainda insistem em permanecer no terreno das boas tentativas de se dar uma resposta consensual a esta capital manifestação de Jesus nos evangelhos.

Bíblia de Estudo Pentecostal
“A blasfêmia contra o Espírito Santo é a rejeição contínua e deliberada do testemunho que o Espírito Santo dá de Cristo, da sua Palavra e da sua obra de convencer o homem, do pecado (cf. João 16.7-11). Aquele que rejeita a voz do Espírito se opõe a ela, afasta de si mesmo o único recurso que pode levá-lo ao perdão – o Espírito Santo”.

Dicionário da Bíblia de J.D. Davis
A blasfêmia contra o Espírito Santo consistia em atribuir os milagres de Cristo à influência de Satanás (Mt 12,22-32 e Mc 3,22-30).

Vocabulário de Teologia Bíblica da Editora Vozes
O drama se tece no NT em torno da pessoa de Jesus. Ele, que honra o Pai, é acusado pelos judeus de blasfêmia porque se diz Filho de Deus, e por isso será condenado à morte. Na realidade, esta mesma cegueira consuma o pecado dos judeus, pois eles desonram o Filho, e, na cruz, eles o cumulam de blasfêmias. Se isso fosse apenas um erro sobre a identidade do Filho do Homem, seria um pecado perdoável a título de ignorância. Mas é um desconhecimento mais grave, pois os inimigos de Jesus atribuem a Satã os milagres que ele realiza pelo Espírito de Deus: há, pois, blasfêmia contra o Espírito, que não pode ser perdoada nem neste mundo nem no outro, porque é uma rejeição voluntária da Revelação Divina.

O Novo Comentário da Bíblia de F. Davidson
Este pecado, a rejeição propositada de Cristo e sua salvação é o único que, pela natureza, priva o homem da possibilidade de perdão. Ver Nm 15.27-31, onde há referência à oferta para expiação do pecado cometido por ignorância e não do pecado intencional. Cometer pecado intencionalmente era blasfêmia contra o Senhor. Ver Mc 3.28-29 n. e cfr. Lc 12.10. O vers. 32 apresenta um contraste que à primeira vista parece estranho. A explicação é que o Espírito Santo é quem oferece a salvação ao coração do homem. Pelo fruto se conhece a árvore (33). O argumento aqui é que as boas obras de Cristo eram evidência de sua bondade e em consequência não deram lugar à blasfêmia cometida pelos fariseus. A ilustração da árvore é de sentido duplo, porque o vers. 34 mostra tanto a malevolência dos fariseus quanto a bondade de Cristo. Por tuas palavras (37). Palavras não são a causa, mas a evidência de justificação ou de condenação.

Warrem W. Wiersbe na Wikipédia
Mas o que vem a ser essa terrível “blasfêmia contra o Espírito Santo”? (...) trate-se de uma situação específica, correspondente apenas ao período em que Cristo ministrou aqui na Terra. Jesus não parecia diferente de qualquer outro homem judeu (Is 53.2). Maldizer Cristo era uma ofensa perdoável enquanto ele estava aqui na Terra. Mas quando o Espírito de Deus veio no Pentecostes comprovando que Jesus era o Cristo e estava vivo, a rejeição do testemunho do Espírito passou a ser determinante. Logo a única consequência possível era o julgamento.
Ao rejeitarem João Batista, os líderes estavam rejeitando o Pai que o enviou. Ao rejeitarem Jesus, estavam rejeitando o Filho. Mas ao rejeitarem o ministério dos apóstolos, estavam rejeitando o Espírito Santo – e essa era a rejeição final. O Espírito é a última testemunha, e tal e tal rejeição não pode ser perdoada.

Papa Pio X
O pecado contra o Espírito Santo consiste na rejeição da graça de Deus; é a recusa da salvação. Implica numa rejeição completa à ação, ao convite e à advertência do Espírito Santo.

Karl Rahner
Na sua teoria do existencial sobrenatural, ele dizia que uma particularidade do ser humano é imaginar ser capaz de plenificar o Reino de Deus em si, e que esta realização o levaria à salvação. No momento em que o homem aceita viver de acordo com esta teoria existencial, aceita os encargos Reino, mas quando o nega, se fecha para a Salvação. O único modo de viver esse existencial é através do amor ao próximo, que não se traduz somente em atitudes. Se alguém faz o que é bom para parecer bom, é, na verdade, um egoísta, e está se fechando à salvação. Para Rahner a blasfêmia contra o Espírito Santo é o pecado contra o existencial sobrenatural. Ele não já pode mais ser perdoado porque seu perdão não é possível, porque o próprio indivíduo está se fechando para o perdão, na justa medida em que nega sua natureza. Seria uma espécie de suicídio espiritual. (continua)

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