Entre a fé e a razão I

A incredulidade de Tomé, Brugghen (1588-1629)
Disseram-lhe, então, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas Tomé respondeu: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei. Entenderão o contexto ao ler João 20.19-29.

A narrativa nos leva a crer que Tomé cometeu o segundo maior crime contra o estabelecimento do Cristianismo. Induz-nos a pensar que ele estaria em uma categoria um pouco abaixo de Judas, e que cometera um delito um pouco menos grave, porque uma nova religião necessita de crentes, de seguidores crédulos e fiéis, jamais de incrédulos. Diferentemente de hoje, quando as igrejas cristãs estão botando gente pelo ladrão. Essa é uma expressão estranha aos mais jovens não entendem. Não estou acusando ninguém de roubo. Ladrão nada mais é do que um pedaço de cano que se coloca nas caixas d’água para que elas não transbordem quando a boia falha ou mesmo quando ela nem existe. Então essa é a ideia, o que mais se tem hoje é gente se dizendo cristão. A sua soma já é quase a metade da população da Terra, ou seja, mais de três bilhões e meio de pessoas. Já não existe nem mais o antigo orgulho de identificar-se pela denominação, ninguém mais é batista ou assembleiano, hoje todo mundo é cristão.

Mas no começo não era assim, a igreja nascente carecia muito de adeptos que a divulgassem e de testemunhas que a afirmassem. Mas não precisava nem um pouco de críticos para contestá-la. Ainda era muito cedo pra André fazer uma coisa como essa. Não havido nenhum confronto com outra doutrina, ainda não tinha acontecido nenhuma controvérsia com outros religiosos, e a fé cristã já estava emperrada em si mesma, já estava travada dentro das suas próprias convicções. Nem bem a comoção causada pela paixão de Cristo havia sido absorvida e já havia dissidentes na igreja. Esse espanto se torna maior ainda porque não está se falando da totalidade dos discípulos de Jesus, que segundo as escrituras eram bem mais do que os setenta que ele enviou na primeira grande cruzada missionária. Mas porque aconteceu no estreito círculo dos doze que escolheu para segui-lo mais de perto. Entre os doze que puderam testemunhar todo o seu ministério, os doze escolhidos a dedo. Quando Jesus fala: Não foram vocês que me escolheram, mas eu que escolhi vocês, alguns cristãos de hoje não aceitam. Pelo menos é o que se canta na letra de algumas músicas modernas: eu decidi te servir, eu vou te adorar etc. Mas aqueles doze, não. Eles podiam contestar a fé de forma alguma. Foram escolhidos um por um, sem pressão e sem indicação pelo próprio Jesus.


Jesus iniciou um colegiado, mas parece que Tomé criou um grupo de estudo à parte, pois o que mais se ouve hoje nas igrejas hoje em dia é que é preciso ver para crer. Gente que se orgulha de ser como São Tomé. Se não exatamente com essas palavras, mas um conceito bem definido, principalmente pelas doutrinas triunfalistas, onde o poder de Deus está sempre em questão. Em igrejas que se pede que ele cada vez mais manifeste o seu poder para que mais pessoas alcancem as bênçãos desejadas e assim passem a crer nele. Para que pessoas sejam levadas à verdade por meio de sinais incontestáveis. As mensagens que são pregadas sobre Deus são muito semelhantes a uma campanha política. Mostra-se de antemão as vantagens que Deus pode proporcionar de uma forma tão mercantilizada que ele parece mais um candidato a Deus. Nada parecido com o Deus soberano e todo poderoso que ensina a Bíblia. 



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