Encontros e relacionamentos I

Jesus e a mulher samaritana de Paolo Veronese
Seria bom você ler João 4.1-15
Esta narrativa é uma prova da genialidade de João, como também da sua capacidade de entrelaçar símbolos ocultos, porém, de significados profundos ao texto. Foi recomendado que se lesse somente até o versículo quinze, porque a quase infinita sucessão de temas contidos nesse capítulo exigiria mais tempo do que realmente dispomos para uma reflexão, ainda que superficial, de todo o capítulo. Temas que apontam a importância de Jesus no sistema patriarcal de Israel, de como ele é o dom de Deus e como é o verdadeiro profeta, são só alguns deles. Mas eu gostaria de me deter apenas em um tema que já vem sendo recorrente em João desde o capítulo três, o tema do encontro e do relacionamento. Como Jesus encontra e se relaciona com Nicodemos, uma figura da aristocracia de Israel, da elite cultural e religiosa do seu povo. Como encontra e como se relaciona com João Batista e seus discípulos, que eram considerados a ralé, símbolos da ignorância e do fanatismo religioso. E também como encontra e se relaciona com essa mulher, que é o espelho mais iluminado do que é contraditório na fé judaica, uma verdadeira transgressora da Torah, a lei de Deus, em todos os sentidos.

O encontro se dá à beira do poço que na Bíblia é o local de encontro de grandes amores. Foi à beira do poço que Jacó encontrou Raquel. Foi também à beira do poço que Moisés encontrou sua esposa Séfora. Jesus não encontrou propriamente uma esposa, mas encontrou uma mulher marginalizada, cheia de preconceitos e que arrastava atrás de si a maldição secular dos samaritanos. Uma mulher a quem tanto amou e de quem não desistiu, até transformá-la numa precursora de Paulo: uma apóstola entre os não judeus. É dela o crédito pelos primeiros convertidos pela fé, como podemos constatar isso na confissão dos seus compatriotas: Já não cremos pelo o que ela contou, mas pelo que ouvimos e sabemos que este é realmente o verdadeiro Salvador do mundo. A Bíblia diz que a fé vem pelo ouvir, diferentemente de como é pregado hoje em dia, onde dizem que ela vem através de experiências de êxtases ou do testemunho de milagres. É a essa conclusão que o texto vai nos levar. Um simples encontro de Jesus com uma mulher à beira do poço vai resultar na conversão sincera de muitos. Mas para que isso acontecesse algumas barreiras tiveram que ser superadas, muitos obstáculos tiveram que ser vencidos.

O primeiro grande obstáculo aparece logo de saída no versículo quatro: Jesus teve que passar pelo território dos samaritanos. A primeira certeza que devemos ter para obtermos algum mínimo resultado é que o evangelho vai nos levar a lugares que tentamos a todo custo evitar. Vai nos levar a lugares de gente ruim, de gente diferente do que nos propomos ser, de pessoas com as quais nós não nos damos nada bem. Nós não gostamos dos samaritanos? É justamente pra lá que o evangelho vai nos mandar. Nós podemos até não ir. Podemos até achar que estamos seguindo e evangelho onde estamos, mas é lá onde Deus nos quer.




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