Agostinho de Hipona, auor autor não identificado |
Santo Agostinho, em sua preciosa obra Cidade de Deus escrita
no quinto século, nos oferece uma pista bem concreta de como funciona a mente
ocidental em contra partida a cidade dos homens. Ele a expõe da seguinte forma:
dois amores fizeram as duas cidades: o
amor de si até o desprezo de Deus – a terrestre; o amor de Deus até o desprezo
de si – a celeste. Por mais divergentes que essas cidades possam parecer,
Agostinho nos mostra que elas estão sempre se cruzando, pois ambas não se
referem a locais geográficos distintos, porém, buscam retratar a postura do
homem diante das realidades do amor a Deus o do amor a si mesmo.
Mas aí vem Paul Tillich, no século XX, e eleva esse
pensamento ao estremo ao dividir a postura humana diante dessa mesma realidade
em três estágios definidos.
O primeiro estágio ele chamou de autônomo. O estágio em que
o homem se imagina senhor da sua própria existência. Para este homem tudo
começa e termina nele. Ele é o único provedor, o único mantenedor e o único cuidador
de si e de sua família. Nesse estágio, quando não admite a existência de Deus,
questiona todas as situações onde o divino possa ter alguma participação. Sua
lei se fundamenta exclusivamente na sua razão e por ela pauta toda suas
decisões, condutas e justiça.
Mas há um segundo estágio, o que Tillich vai chamar de
heterônomo, hetero nomos, lei estranha, ou lei fora de si. O
estagio em que o homem é regido por uma consciência que está além de si mesmo,
mas que não consegue definir bem qual é essa consciência. Seu estado emocional
é sempre receoso em tudo que faz. Por não ter segurança em suas decisões
transfere para algo fora de si, por mais supersticioso que possa parecer. Seu
temor é constante e sua vida não passa de uma eterna suspeição de si e dos
outros. É do tipo que acende uma vela para um santo ajudar e outra vela para o
outro santo não atrapalhar.
Mas Tilich fala de ume terceiro estágio da consciência
humana, o teônomo (Teo, Deus; nomos, lei). Esse é o homem que não sabe
bem se faz o que faz por sua própria vontade ou se atende a uma vontade de Deus,
posto que em sua cabeça ambas a situações se confundem. Esses não têm preocupação
alguma com o fato de estarem certos ou errados em suas decisões, pois se veem guiados
pelo Espírito Santo de Deus. Homens a quem Paulo, em Romanos 8.14, chamou de
Filhos do Espírito.
Por mais estranho que possa parecer aos conceitos do
evangelho pregado na maioria dos nossos púlpitos e altares, é o terceiro
estágio que, tanto Agostinho quanto Paulo e Tillich, consideram primordial,
muito embora não contemplem qualquer dos ditames exigidos pelas igrejas na
recepção dos seus membros. Não fala em dízimo, em testemunho, em abstinência,
muito menos de assiduidade aos cultos. Fala de uma consciência tão livre que
nem mesmo o mais eloquente dos pregadores pode fazê-la escrava dos seus conceitos.
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