Discutir ou não discutir?

Micaías, Josafá Zedequias e Acabe, autor não identificado

Quem dá uma resposta séria a uma pergunta tola é tão tolo como quem a fez. Responda ao tolo de acordo com a tolice dele para que ele não fique pensando que é sábio. Provérbios 26.4-5

Tenho ouvido sermões há muito tempo. Se John Wesley pregou mais de quarenta mil vezes, penso que já ouvi uma quantidade sermões em torno desse número. Mas o fato é que até o dia de hoje ainda não tenho opinião formada sobre como se deve proceder nas discussões com ateus, agnósticos e simpatizantes. Discuto ou não? Respondo ou não? Formulo uma teoria séria e me torno um tolo, como assim deduz Salomão, ou entro na tolice dele para que ele pense que eu sou tão inteligente quanto ele pensa que é, como também recomenda o mesmo pensador?

Para elucidar boa parte dessa questão contamos com um exemplo espetacularmente esclarecedor em II Crônicas 18, que narra a profecia de Micaías contra o rei Acabe de Israel. Micaías, profeta do reino do Norte é mais um desses profetas quase anônimos da Bíblia que mereceriam, da parte dos escritores sacros não apenas um breve capítulo,  dada não somente à contundência, também um livro, devido à pertinência da sua mensagem. Sobre seu grandewza do ministério profético, testemunha o prfóprio Acabe: Eu não disse que para mim ele nunca profetiza coisas boas? Ele sempre diz alguma coisa ruim! 

Dá-se que Micaías foi envolvido involuntariamente em uma questão atestada e sacramentada por pelo menos outras quatrocentas e duas pessoas, onde somente ele tem opinião contrária. Mas não pensem que, dada a sua convicção de profeta do Deus Altíssimo, ele deixou de ser contraditório, expondo com clareza a verdadeira Palavra dion Altíssimo. Mesmo que a verdade lhe fosse revelada, a princípio fez coro com os demais profetas, surpreendendo Acabe e colocando-lhe, ao mesmo tempo, uma pulga atrás da sua orelha.

O rei Acabe conhecia bem a figura chamada Micaías e tentou, de todas as formas, omitir a sua pregação, mesmo porque ele já tinha consultado quatrocentos profetas, os quais foram unânimes em confirmar a sua vitória na batalha contra o rei assírio. Mas Josafá, rei de Judá, a exemplo do dramaturgo Nelson Rodrigues, também avaliava que toda unanimidade é burra, aí resolveu perguntar se não havia mais algum profeta naquele país. Tenho pra mim que as palavras de Acabe venham a ser a consagração máxima que um profeta pode receber em vida. Ter a rejeição sumária de um rei iníquo e sanguinário lhe pesando nas costas é mais do que suficiente para colocar qualquer um diretamente na galeria dos heróis da fé, o que já seria suficiente para considerá-lo mais um dos grandes profetas de Deus.

Micaías não somente não calou sua voz em face das ameaças contra sua vida e profetizou, em nome de Deus, a derrota acachapante do rei. Esse profeta foi muito mais além e fez o inimaginável. Após ouvir Acabe proferir a sua condenação sumária: Prenda Micaías e o joguem na cadeia e o ponham a pão e água até que eu volte são e salvo, disse ainda: Não dei por termionada a minha profecia. Acabe, nessa batalha você vai morrer e os cães lamberão o seu sangue.

Vejamos o que podemos aprender com Micaías. Primeiramente a não discutir com tolos. Na primeira consulta ele disse para o rei: Por que você está me perguntando isso se já tem a opinião de quatrocentos profetas? Assim devemos responder aos questionadores da nossa fé. Eles já têm a opinião de Freud, de Nietzsche, de Marx e de Darwin, por que querem saber o que disse Jesus Cristo? Para esse tipo de gente o evangelho é suficiente. Já que o  rev. Spurgeon: evangelho é um leão enjaulado, é preciso apenas que abramos a porta da jaula.

Contudo, a questão se torna mais séria quando os nossos oponentes passam a deduzir que a nossa fé é ignorante que não pem como apresentar respostas que possam negar com razoabilidade tudo aquilo que eles consideram verdadeiro e definitivo. Ou seja, tudo aquilo que já tenha se tornado consensual. Nancy Pearce, em seu livro Verdade Absoluta, diz: Ainda temos de nos esforçar para desenvolver um caráter de tamanha qualidade que as pessoas vejam a diferença entre os remidos e os não-remidos. Nossa vida deve mostrar uma dimensão sobrenatural que os não-crentes não possam explicar ou imitar por seus métodos naturais e pragmáticos. Foi exatamente isso que Micaías fez. Apostou a própria vida na sua profecia, mas não sem ridicularizar dz o rei Acabe antes da sua partida para a batalha: Deixe uma ordem para que se você não voltar que me soltem, caso contrário passarei o resto da minha vida preso. Simples assim: Se você sobreviver minha profecia não é a palavra do Senhor.

A exemplo do que ocorreu com Micaías, sabemos bem que nada é simples e fácil. A fé em Jesus Cristo não é uma questão de crer e sim de ser. Nada está garantido e nem tudo acaba bem, como foi observado nesse breve ensaio. Por conta disso, vamos refletir no que disse o rev. Cherteston: Há duas verdades: a do mundo sobrenatural e a do mundo natural, que se contradizem. Na qualidade de naturalistas, podemos supor que o cristianismo é um contra-senso; quando nos lembramos de que somos cristãos, temos de admitir que o cristianismo é a verdade mesmo que seja um absurdo.


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