O que Paulo tem a ver com Jó?

Amaldiçoa teu Deus e morre. (autor não identificado)
Mas que importa? Contanto que, de toda maneira, ou por pretexto ou de verdade, Cristo seja anunciado, nisto me regozijo, sim, e me regozijarei; porque sei que isto me resultará em salvação, pela vossa súplica e pelo socorro do Espírito de Jesus Cristo. Filipenses 1.15-19

Tomarei a minha carne nos meus dentes e porei a vida na minha mão. Eis que me matará, já não tenho esperança; contudo, defenderei o meu procedimento. Também isto será a minha salvação, o fato de o ímpio não vir perante ele. Job 13.14-16

O título dessa meditação bem que poderia ser O que o Segundo Testamento te a ver com o Primeiro Testamento? Ou, se preferirem: O que o Velho Testamento tem a ver com o Novo Testamento? Quem sabe poderíamos melhorá-lo ainda mais dizendo: O que o conceito de salvação para Paulo tem a ver com o que o pessoal do Antigo Testamento pensava sobre salvação?

Para o bem da verdade não existia apenas um conceito de salvação para os antigos. Parece que esse tema foi tomando consistência à medida que o entendimento acerca de Deus foi evoluindo. Durante muito tempo, e isso inclui o tempo de Abraão, o que se pensava sobre salvação é que ela seria levada a cabo na concepção de um filho homem, um primogênito. O judeu teria a sua vida estendida na figura de filho que herdaria a maior parte dos seus bens e chefiaria o clã ou família, até então administrada por ele. Mas como ficava a salvação para aqueles que só tiveram filhas? E para aqueles não tiveram filho algum? Para os que morreram jovens ou que nunca se casaram? É ai que entra na salvação o conceito de justiça. O justo não morrerá, mas viverá pela fé. Meio complicado isso. É sempre bom lembrar que o conceito de justo deles não tem relação alguma com o nosso conceito de bondade. Justiça, nesse caso, era a relação que o mais favorecido estabelecia com aqueles que eram menos favorecidos. O justo vive e o ímpio vai para o esquecimento, o lugar para onde irão, no entendimento deles, os mortos que não foram que não pautaram a sua vida na justiça. Dá a impressão de que a salvação não era coisa pra pobre, muito menos pra escravo, não é mesmo?

Não estaríamos de todo errado ao pensar assim, pois, mais tarde, quando Israel se viu subjugada por nações estrangeiras, de modo que o único legado que o pai ao morrer poderia deixar para o filho eram as correntes da escravidão, a ideia de salvação teria por obrigação mudar drasticamente. A vida não poderia terminar simplesmente na maldição do cativeiro. O exílio babilônico não poderia jamais ser o ponto final para o povo de Deus. Os ímpios nunca, jamais poderiam sair ganhando. É ai que eles vão pensar numa salvação posterior à morte. Em um conceito primário de ressurreição. A pessoa, mesmo após à sua morte, teria o seu corpo físico totalmente restaurado e viveria novamente para ver a sua vingança contra a impiedade a ele infligida. O livro de Jó expressa com clareza esse conceito: Pois eu sei que o meu defensor vive; no fim, ele virá me defender aqui na terra. Mesmo que a minha pele seja toda comida pela doença, ainda neste corpo eu verei a Deus. Eu o verei com os meus olhos; os meus olhos o verão, e ele não será um estranho para mim. E desejo tanto que isso aconteça! Job 19.25-27 (continua) 

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