O justo, o poeta e o profeta

O deus da Nova Ordem Mundial, autor não identificado


É importante que você leia Job 21, Salmo 10.1-11 e Jeremias 12.1-5

É mais do que certo que em todas as vezes que tentamos calçar os sapatos do Primeiro Testamento nos pés do Segundo Testamento incorremos em erros gravíssimos de interpretação. Uma vez que as palavras dirigidas a Israel têm conotações próprias para um povo que precisava se preservar em meio a um mundo majoritariamente pagão à sua volta. Este é um sapato se torna apertado demais, pois vem atrelado de regras pontuais para aquele povo e para o seu contexto, mas que não fazem qualquer sentido diante da liberdade que Cristo veio nos trazer. O oposto, da mesma forma, é também inconcebível, posto que nem mesmo mentes esclarecidas do século XXI conseguem entender preceitos simples do evangelho. Que confusão não fariam estas mesmas palavras se expostas a pessoas da Idade do Ferro, ao conceito de olho por olho, dente por dente?
Esses erros ocorrem com mais frequência ainda quando queremos fazer do texto bíblico algo monolítico que se aplica a todas as situações, em todos os tempos e todos os lugares. Debaixo da pretensa imposição alguns se valem do texto literal para dizer que “é bíblico”, e o fazem para respaldar graves e irreparáveis contradições ao que as sagradas letras querem efetivamente revelar. Por conta disso mais uma vez vou repetir o adágio de que me vali outras vezes: Não é bom porque está na Bíblia. Está na Bíblia porque é bom. Dito isso, vamos examinar os três textos sugeridos.
Quando se refere ao justo Deus diz que se Jó não entende as coisas do mundo físico, como por exemplo: onde está armazenado o gelo da nevasca ou onde estão firmados os fundamentos da Terra, como poderia ele entender coisas complexas, tais como a proposta primeira do livro que leva o seu nome: sofrimento do justo. Como Jó iria entender elementos complexos que são afetos ao mundo espiritual?
Quando se dirige ao salmista, Deus assegura que absolutamente nada na situação denunciada por está correndo à revelia, como ele supõe. Deus está de olho, continua no controle e por conta disso tem sido sensível aos apelos dos órfãos e dos oprimidos e que em breve fará justiça para que o malvado não continue a disseminar o terror. O Salmo 125.3 deixa esta resposta ainda mais clara e objetiva: O cetro do ímpio não prevalecera para sempre sobre a sorte do justo, para o justo não venha a lançar mão da iniquidade.
Para ambos, Deus tem palavras de esperança, mas que de alguma forma confortam ou abrandam a crueza das visões que eles têm da sua realidade. A palavra de Deus quase nunca nos mostra antecipadamente a maneira de como agirá nas situações que lhes são adversas. Sua ação é sempre surpreendente e se concretiza a partir do nunca pensado ou sequer imaginado. Esse é Deus de Jesus Cristo.
Mas ainda temos que lidar com as palavras dirigidas ao profeta. Talvez sejam essas as que mais se nos dizem respeito. Com Jeremias Deus tem uma atitude totalmente diferente. Deus lhe joga na cara o ideal do chamado profético para qual foi comissionado desde o ventre de sua mãe. Exige que o profeta repense sobre as suas queixas e que se recomponha da sua inquietação diante da mesma injusta realidade que outrora se empenhou em amenizar para o salmista e para o justo. A pergunta para o profeta é iminentemente retórica, pois como esse se imaginaria desempenhando a sua vocação, que tem por objetivos confrontar desafios muito maiores, quando estaria naquela hora tropeçando em questões meramente domésticas? Se Jeremias não conseguia contender com os injustos que caminhavam à sua volta, como Deus poderia enviá-lo para, em seu nome, denunciar a urgência a conjuntura em que estaria em jogo a sobrevivência do seu povo, do povo escolhido?
Não há desafio maior que esse para a igreja de hoje: preservar a sua sobrevivência como povo escolhido de Deus para o anúncio do seu evangelho. Enquanto nos reunimos para cantar musiquinha para Jesus, algo que se tornou obrigatório em todas as reuniões que organizamos, nos esquecemos de uma das ordenanças básicas de Jesus: fazer discípulos melhores do que nós. O que se tem observado na disseminação do evangelho por meio de células é que os próprios dirigentes estariam carentes do conhecimento de questões fundamentais da fé, sendo não foram selecionados entre os que estavam habilitados para a função, mas na maioria das vezes entre os que se mostraram mais entusiasmados.
Na verdade, estamos como Jeremias, queixosos das situações menos importantes quando o mundo à nossa volta está esperando ansiosamente que os filhos de Deus se revelem e que levantem, em seu nome, contra as potestades que nos governam com tirania injusta. Se não somos páreo o governador do nosso estado, contra o prefeito da nossa cidade, contra um tribunal superior extemporâneo e por sucessivos governos corruptos, como seríamos comissionados a combater a estrutura maligna montada pelo grande capital, a mesma que nos impõe praticamente tudo o que fazemos e deixamos de fazer? Muito pior do que isso, são eles que nos dizem no que acreditar.
Quando iremos entender que nosso campo de batalha não é o espaço entre a esquerda e a direita, entre os criacionistas e os evolucionistas, entre os ambientalistas e os agricultores, entre os homo e os héteros? Nossa luta é contra aqueles que pretendem reduzir, e estão prestes a conseguir, a população mundial a um terço para que o futuro da sua portentosa sustentabilidade não seja ameaçado. Nova ordem mundial é o nome do anti-Cristo. Se como cristãos não estamos conseguindo concorrer contra o poder territorial, como intentaremos contra um poder mundial?

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