O que Paulo tem a ver com Jó? II

Alexandre no Templo de Jerusalém, por Sabastiano Conca

Falando ainda sobre os variados conceitos de salvação contidos na Bíblia, não poderíamos deixar de fora o período intertestamentário em que a situação do povo de Israel mudou drasticamente. Durante o domínio selêucida sobre a Palestina, Israel atravessou aquele que provavelmente foi o período mais humilhante da sua história. Sua religião milenar foi perseguida, seus costumes vilipendiados e seu templo profanado viriam a ser apenas resquícios daquilo que o escritor do livro de Daniel chamou de Desolação da Abominação. Ver a estátua de Zeus ser colocada no santo dos santos nem o mais pessimista dos judeus em seus piores pesadelos ousaria imaginar. A calamidade se abateu de vez quando o povo de Deus estava se vendo martirizado, não mais a despeito da sua fé, mas agora por causa da sua fé. Uma salvação que viesse a suprir necessidades nessa escala estava muito além de uma questão da justiça contra a iniquidade de quem quer que fosse. Antíoco IV, rei selêucida era a figura mais evidente do inimigo declarado de Deus, portanto o povo não estaria propenso a crer, senão em uma intervenção direta e objetiva da parte de Deus em favor da sua salvação que fosse tanto ou mais drástica do que a situação que se apresentava.

Ressurge a figura do Messias que viria para restaurar a glória que Israel experimentara nos reinados de Davi e Salomão. Não se pensava apenas em um tipo de salvação que os livraria das mãos do opressor. O Messias teria que ser o chefe de estado a promover a grande inversão dos papéis. A partir chegada do ungido de Deus, Israel governaria sobre todas as nações e as grandes potências estariam por estrados dos seus pés, para usar a expressão do salmista.

Outro conceito de salvação nos é dado a conhecer por meio de João Batista. João prega a salvação através do arrependimento: arrependei-vos e crede no evangelho. A salvação que vem por uma atitude concreta, pois para ele arrependimento não é como pensamos uma sensação de fracasso moral ou mesmo o cair em si após um procedimento inadequado. João com a brandura que lhe é peculiar se dirige ao povo com palavras amorosas: Ninhada de cobras venenosas! Quem disse que vocês escaparão do terrível castigo que Deus vai mandar? Façam coisas que mostrem que vocês se arrependeram dos seus pecados. (Lucas 3.7) 

Quando o povo lhe perguntou como seria esse arrependimento, João diz: Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem nenhuma, e quem tiver comida reparta com quem não tem. Aos soldados era exigido que não fossem corruptos e aos publicanos que não cobrassem nada além do que era devido. Essa foi uma novidade tão grande no conceito de salvação que detonou uma bomba na religiosidade judaica. João afirma categoricamente que para a salvação não há mais necessidade de templo, nem de sacerdote e muito menos de sacrifício. A salvação é uma tomada de posição em relação à boa notícia da parte de Deus e não o cumprimento de preceitos religiosos.(continua)

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