Moisés e a glória de Deus. Autor não identificado |
Retrocedendo agora ao período da Revolução dos Macabeus, ou
seja, há 160 a.C., Israel se viu tomada por movimento religioso priorizava a
perfeição pessoal como condição para a obtenção da salvação. Isso se daria por
meio do rigor no cumprimento da Lei de Moisés e da busca incessante de uma
retidão própria e de uma conduta irrepreensível. O movimento dos separados,
cuja tradução mais provável seja movimento dos fariseus, pretendia levar a lei
ao limite extremo e para tanto impuseram sobre si nada menos do que seiscentos
e treze ordenanças e as apensaram ao Decálogo, não apenas para que não se
desviassem dele, mas que o transpusesse. Como exemplo podemos dizer que a lei
para os judeus comuns exigia um jejum anual, porém os fariseus jejuavam duas
vezes por semana. Era esse o espírito desse conceito se salvação.
Permiti-me voltar no tempo pelo simples fato de entender ser
exatamente esse o movimento que mais se aproxima do que é entendido, aceito e
pregado não apenas como meio de salvação pela maioria esmagadora das nossas
igrejas na realidade atual, mas como o único meio pelo qual ela se torna
possível. Pedindo licença ao rev. Ed Rene para usar a sua premissa quando diz ser
o Cristianismo atual a religião do “tem que”, gostaria de desenvolver essa
ideia, pois foi ela que me foi apresentada desde os pequenos bancos da Escola
Dominical até as aulas mais consistentes da Faculdade de Teologia.
A pessoa para ser de fato aprovada no quesito salvação tem que
muita coisa: tem que dar o dízimo, tem que entregar o seu coração, tem que louvar
a Deus, tem que se consagrar, tem que frequentar os cultos e mais uma série
interminável de tem quês. A nossa necessidade imperiosa de nos apresentarmos
diante de Deus aprovados, nessa hora, fala mais alto do que a nossa fé na graça
redentora de reconciliadora. Seria esse realmente o único e inescapável caminho
para a salvação?
Paulo, nos capítulos nove, dez e onze de Romanos diz que não.
Mas entende-los precisamos voltar ao tempo em que Moisés exigiu ver a plenitude
da glória de Deus e recebeu como resposta: Eu
terei misericórdia de que eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem
eu quiser ter compaixão. (Êxodo 33.19) Somente esse versículo bastaria para
tirar das costas de quem quer que seja a responsabilidade, a dignidade, o
direito, a prerrogativa, a pretensão de obter a salvação por merecimento. Mais
ainda, não permite sob hipótese alguma que um sistema de troca entre Deus e os
homens seja possível.
Passando agora por Isaías veremos dois aspectos que são
fundamentais para a nossa compreensão. Isaías 42, 1 e 3 relata as disposições do
servo de Deus: pus sobre ele o meu
Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. Não esmagará a cana
quebrada, nem apagará a torcida que fumega. Vemos aqui que a missão do
servo não é aniquilar aqueles que foram esmagados pelas circunstâncias da vida
e nem riscar do mapa aqueles que, por incompetência ou negligência, não foram
adequados. Importante que se diga que o servo veio justamente para os
inadequados. E o segundo diz respeito àqueles que ainda cogitam pela religiosidade ter alguma relevância na sua própria história
de salvação Isaías também relembra que essa mesma pretensão que tomava conta dos
judeus é totalmente ilusória, pois a sua salvação é um perpétuo desígnio de
Deus. Eu a abandonei, mas só por um
momento, e agora, com grande amor, eu a receberei de volta. Na
minha ira e no meu furor, eu me escondi de você por um momento; mas
com amor eterno eu terei compaixão de você.” É isso o que diz o Senhor, o
seu Salvador.(Isaías 54.7-8) (continua)
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