O que Paulo te a ver com Jó? III

Moisés e a glória de Deus. Autor não identificado
Retrocedendo agora ao período da Revolução dos Macabeus, ou seja, há 160 a.C., Israel se viu tomada por movimento religioso priorizava a perfeição pessoal como condição para a obtenção da salvação. Isso se daria por meio do rigor no cumprimento da Lei de Moisés e da busca incessante de uma retidão própria e de uma conduta irrepreensível. O movimento dos separados, cuja tradução mais provável seja movimento dos fariseus, pretendia levar a lei ao limite extremo e para tanto impuseram sobre si nada menos do que seiscentos e treze ordenanças e as apensaram ao Decálogo, não apenas para que não se desviassem dele, mas que o transpusesse. Como exemplo podemos dizer que a lei para os judeus comuns exigia um jejum anual, porém os fariseus jejuavam duas vezes por semana. Era esse o espírito desse conceito se salvação.

Permiti-me voltar no tempo pelo simples fato de entender ser exatamente esse o movimento que mais se aproxima do que é entendido, aceito e pregado não apenas como meio de salvação pela maioria esmagadora das nossas igrejas na realidade atual, mas como o único meio pelo qual ela se torna possível. Pedindo licença ao rev. Ed Rene para usar a sua premissa quando diz ser o Cristianismo atual a religião do “tem que”, gostaria de desenvolver essa ideia, pois foi ela que me foi apresentada desde os pequenos bancos da Escola Dominical até as aulas mais consistentes da Faculdade de Teologia.

A pessoa para ser de fato aprovada no quesito salvação tem que muita coisa: tem que dar o dízimo, tem que entregar o seu coração, tem que louvar a Deus, tem que se consagrar, tem que frequentar os cultos e mais uma série interminável de tem quês. A nossa necessidade imperiosa de nos apresentarmos diante de Deus aprovados, nessa hora, fala mais alto do que a nossa fé na graça redentora de reconciliadora. Seria esse realmente o único e inescapável caminho para a salvação?

Paulo, nos capítulos nove, dez e onze de Romanos diz que não. Mas entende-los precisamos voltar ao tempo em que Moisés exigiu ver a plenitude da glória de Deus e recebeu como resposta: Eu terei misericórdia de que eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão. (Êxodo 33.19) Somente esse versículo bastaria para tirar das costas de quem quer que seja a responsabilidade, a dignidade, o direito, a prerrogativa, a pretensão de obter a salvação por merecimento. Mais ainda, não permite sob hipótese alguma que um sistema de troca entre Deus e os homens seja possível.

Passando agora por Isaías veremos dois aspectos que são fundamentais para a nossa compreensão. Isaías 42, 1 e 3 relata as disposições do servo de Deus: pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. Vemos aqui que a missão do servo não é aniquilar aqueles que foram esmagados pelas circunstâncias da vida e nem riscar do mapa aqueles que, por incompetência ou negligência, não foram adequados. Importante que se diga que o servo veio justamente para os inadequados. E o segundo diz respeito àqueles que ainda cogitam pela religiosidade ter alguma relevância na sua própria história de salvação Isaías também relembra que essa mesma pretensão que tomava conta dos judeus é totalmente ilusória, pois a sua salvação é um perpétuo desígnio de Deus. Eu a abandonei, mas só por um momento, e agora, com grande amor, eu a receberei de volta. Na minha ira e no meu furor, eu me escondi de você por um momento; mas com amor eterno eu terei compaixão de você.” É isso o que diz o Senhor, o seu Salvador.(Isaías 54.7-8) (continua)

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