Voto de sacrifício |
Penso que esse seja o enredo que está se desenrolado perante
a face da eleição presidencial em nosso país: a minha necessidade diante da
situação em que se encontra o país deve vir em primeiro lugar. Vejo isso nas
reivindicações que falam dos mais diversos assuntos que afetam grupos
particulares e menos naqueles que dizem respeito a todo o conjunto da
sociedade, que são emprego, saúde e segurança. É feminismo de um lado, kit gay
do outro, armamento da população mais adiante, mas não vejo quase ninguém
querendo saber qual é política do seu candidato para as questões que determinam
todas as demais. Talvez seja pelo fato de que as inúmeras desilusões que temos sofrido
tenham feito com que façamos confusão entre livre arbítrio, determinismo e
fatalismo. Ou seja, como já perdemos totalmente o controle sobre os quesitos essenciais,
estamos tentando desesperadamente salvar alguns poucos secundários.
Agora, mais do que nunca, precisamos definir em que time vamos
jogar e não falo aqui de política partidária, em candidato petralha, coxinha,
banqueiro ou machista, mas sim da responsabilidade do voto. Meu voto será a
expressão da minha consciência crítica, será servo do determinismo instaurado ou
vítima da fatalidade que abreviou o caos? Embora tenha sido chamado de viúva do
Lula e classificado por outros adjetivos semelhantemente contraditórios a esse,
me situo orgulhosamente no time dos que nem sabem ao certo onde está guardado o
título de eleitor. Por tudo isso venho tentar mostrar o que, segundo o meu
parco conhecimento do evangelho, seria relevante neste pleito de que se
aproxima.
O voto determinista.
Determinismo é a doutrina que ensina que tudo no universo
está limitado a leis imutáveis, ou seja, todos os fatos e ações humanas são
predeterminadas pela natureza, sendo a "liberdade de escolha" uma
mera ilusão da vida.
Curioso é que muitos evangélicos acreditam nisso, porque
veem a natureza como uma força idônea, que avassaladoramente joga com o destino
das pessoas daqui prá lá e de lá pra cá. Em primeiro lugar o substantivo
natureza sequer é cogitado na Bíblia, então não é de lá que deriva essa ideia. Em
segundo lugar a Bíblia diz que esse conjunto de leis naturais tem como
designação a palavra criação. A criação realizada e consumada por Deus não tem
vontade própria, não se rebela ou mostra insatisfação. Ela foi entregue ao
homem para que a administre. As Escrituras se valem para tanto do verbo
dominar. Dominar encerra o domínio propriamente dito e a denominação, que não é
somente dar nome, mas, e principalmente, especificar a sua função. Que uso iremos
fazer de tal criatura.
É aqui que se expõe claramente a nulidade do voto
determinista. Nada está determinado. Ao ser humano foi dado suficiente
capacidade de gerir os recursos naturais. Quem determina as guerras, a fome, as
doenças transmissíveis são as pessoas, não o Diabo, Satanás, a natureza ou qualquer
coisa que o valha, contudo, quem determina quem vai ter o poder de determinar é
o meu e o seu voto.
Esse voto tem outros aspectos interessantes, como o de não
votar em um candidato porque ele não tem chance de ganhar. E o termo ganhar é
fundamental para que entendamos essa característica de eleitor. Parece que a cédula
eleitoral se transforma em um volante de loteria, onde eu vou apostar em quem
vai ganhar e a minha consciência crítica que se dane, afinal: farinha pouca meu pirão primeiro.
(continua)
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