Ressurreição nos dias de hoje |
A filosofia diz que livre arbítrio é a possibilidade de
decidir, escolher em função da própria vontade, isenta de qualquer
condicionamento, motivo ou causa determinante.
Pediria licença para me valer de um texto bíblico que pode
muito bem ser considerado pouco ortodoxo para orientar qualquer discussão sobre
eleições ou mesmo sobre escolhas pessoais. É texto do evangelho de Marcos
5.21-43 que narra a ressurreição da filha de Jairo e para aspirar algum sucesso
nessa tentativa de analogia vou me colocar, sem permissão, no lugar de Jairo.
Jairo vive a situação da eminência da morte da sua filha de
doze anos que sofre de um mal para o qual todos os recursos da medicina de
então se mostraram ineficazes. Em uma atitude nada comum para os judeus
influentes literalmente se joga aos pés de Jesus implorando pela vida de sua
filha. Guardadas as devidas proporções, essa narrativa pode muito bem espelhar
a patologia de extrema morbidez que vive o Brasil nos dias de hoje, para a qual
indistintamente todos os regimes de governo vigentes na nossa história se
mostraram ineficazes.
Vamos imaginar que interrompendo o já dramático cenário
chegam, da casa de Jairo, alguns dos seus empregados deterministas dizendo: Sua filha morreu, não é preciso mais
incomodar o Mestre. Não tem mais jeito. Nada mais pode ser feito. Tudo está
determinado. Está mais do que claro que quem tem amigos assim não precisa de
inimigos. Quem pensa que a vaca foi pro brejo, a casa caiu e que o Brasil bateu
a caçoleta está nesse mesmo nível. Não tem qualquer capacidade de orientar o
voto de quem quer que seja. Nesse momento fatídico Jairo é socorrido pelas
palavras de Jesus: Não seja possuído pelo
medo e sim pela fé. Uma pausa oportuna para Jairo exercer uma racional
ponderação.
A caminhada de Jesus é interrompida por uma mulher impura
que indevidamente se dirige a Jesus implorando pela cura de uma doença que a
aflige há 12 anos. Jesus para, cura a mulher e, sem demonstrar ansiedade,
mantém um diálogo come ela. É que Jairo se desconsola, pois seu pirão era muito
mais urgente do que o dessa mulher, uma vez que sua cura poderia esperar mais
um pouco, mas a vida da sua filha não. Jesus nos ensina a não ter pressa para
tomar uma decisão, por mais urgente que ela se apresente.
Mais na frente acontece o seu encontro com as carpideiras, autênticas
profissionais da fatalidade da morte. Para desespero de Jairo elas asseguram
que a menina está morta, posto que de morte elas entendiam, talvez até melhor do
que Jesus. É aqui que o fatalismo é confrontado. O caos não é a única
alternativa. A morte não tem e nunca terá a última palavra. E o mais
importante, não é a resignação com a fatalidade que poderá resolver a situação.
Jesus aqui nos ensina muita coisa e esse seu ensino se
aplica às situações mais comuns da nossa vida. Ensina que essa não é a hora de
fazer a escolha A por medo de B. Não se deixar levar pela determinismo das circunstâncias.
A Bíblia nos mostra que quando as circunstâncias estão contra Deus, pior pra
elas. Deus, por meio do seu povo, vai fazer o que for preciso. Outra coisa
importante, é que a razão não é para ser alardeada. Ela não soma créditos. Quando
a menina, enfim, é ressuscitada Jesus não a esfrega na cara daqueles que estava
errados. Sua preocupação continua sendo a mesma do início da narrativa e a que
o levou a empreender tal caminhada: aquela que necessitava de socorro. A sua
primeira ordem, tão logo restaurou o caos, foi também em favor da menina, para
quem o limiar crítico já havia sido transposto. Em consonância com a
naturalidade da sua atitude, ele diz apenas: Olhe, a menina acordou. Ela está com fome. Dê comida pra ela.
Não sei esse texto transpôs o limite do razoável, mas não posso
deixar de perceber que a farinha, assim como nosso voto, quando livres das
tendências negativas e administrados com sensatez, são mais do que suficientes
para pirão e bem estar de todo mundo, inclusive daqueles que pensam que nada
mais pode ser feito, a não ser o radical.
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