Tesouro escondido, Tissot |
Um pouco antes desse acontecido, em Lc 16.8, Jesus disse que
os filhos das trevas são mais astutos que os filhos da luz, isso na tradução de
Almeida. Talvez hoje não os chamassem de astutos, mas sim de mais adaptados às
circunstâncias da vida ou, quem sabe, mais atentos e que melhor elucidam os
sinais dos tempos.
Eu tenho cá as minhas dúvidas se já houve antes da nossa uma
geração que mais tenha se esmerado em tornar fato concreto esta profecia do
Mestre. Não posso crer que já tenha existido uma igreja que tão erradamente
interpretou o mundo e os acontecimentos à sua volta quanto a que temos hoje. Um
exemplo vivo dessa declaração é uma foto que Facebook tem mostrado do reverendo
Augustus Nicodemus que supostamente teria acrescentado uma legenda mais ou
menos assim: Tem crente que vê o Diabo na Coca-Cola, na maionese, nos desenhos animados. Só não consegue ver o Diabo usando falsos profetas pregando heresias dentro das igrejas.
O pior de tudo isso é ter que entender que a realidade em a
igreja deve se ajustar é justamente aquela mostrada nos pequenos e singelos sinais
e não se deixar levar pelas evidências por mais espetaculares que elas sejam.
Para nós, um dos grandes exemplos deve ser o nosso texto bíblico de hoje, que
narra o diálogo de Jesus com os caminhantes de Emaús. Tudo dava a entender que aqueles
dois só prestaram atenção às promessas de Jesus que lhes interessavam mais diretamente,
como a restauração de Israel sob o domínio romano, mas não deram qualquer
importância aos sinais que as Escrituras afirmavam serem essenciais. Eles estavam
tristes porque todas as evidências indicavam uma derrota fragorosa do evangelho,
mas para eles a situação mudou quando Jesus com um simples gesto de partir o
pão os fez ver o poder de Deus a despeito de tudo que se mostrava contrário.
Quanto à segunda vinda de Cristo, também existe todo um
acumulado de besteiras que vem se proliferando. Contra todo ensinamento bíblico
conseguimos enxergar nos acontecimentos iníquos do mundo e do nosso cotidiano
não oportunidades claras de confrontação com a Palavra de Deus, mas como uma
bênção que anuncia que a chegada de Jesus e seu reino de glória está prestes.
Ainda não contei a quantidade de cabeças que elas têm, mas
ao que parece, as bestas que emergem da política nacional, estejam de que lado
estiverem, encontram mais militantes fiéis e dispostos a morrer por elas no
meio evangélico do que em qualquer outro segmento da sociedade. Para dizer a
verdade, eu nunca vi tantos pastores envolvidos em uma adversidade quanto os
que vejo se declarem de Dilma ou de Aécio. Nem mesmo o tsunami da Ásia
conseguiu levar tantos crentes em suas águas avassaladoras.
Tem alguma coisa muito errada na nossa maneira de ser
cristão hoje. Jesus disse que seu reino não era desse mundo, está certo, mas ele
também deixou bem claro a Pilatos quem é que estava no controle desse mundo. Quando
Pilatos lhe disse que tinha autoridade para soltá-lo, Jesus imediatamente o
contestou: — O senhor só tem autoridade
sobre mim porque ela lhe foi dada por Deus (Jo 19.11). Se existe alguém que pode nos livrar desse mar de lama esse
alguém não está em Brasília, mas pode ser encontrado nas páginas da boa e velha
Bíblia e invocado na mais simples e sincera oração. Simples assim.
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