Vinho novo, Duccio de Buoninsegna |
Ainda que sob a ameaça de um trágico fim eminente, e que a
profecia de Jesus que haveria choro e o ranger de dentes estava às portas da
cidade, não se encontra nos escritos neo-testamentários um clamor, em Israel sitiada,
semelhante ao que presenciamos hoje nas igrejas pela volta de Cristo.
Não sei se estou misturando as notícias, mas me foi
informado que pela pregação de um único homem, em Tel-aviv, mil judeus se
converteram simultaneamente ao Cristianismo, e quase que simultaneamente também,
estes mesmos judeus clamaram a Deus para que apressasse a vinda do Messias.
Que evangelho é esse que está sendo pregado, que ao invés de
apontar para o que Jesus já fez e anunciar que tudo está consumado, insiste em fundamentar
a sua mensagem naquilo que, segundo dúbias interpretações, ele ainda fará?
Meu velho pai dizia que não queria ir para o céu anunciado
pelos seus colegas pastores. Um céu para o qual Jesus subiu pedindo o perdão de
Deus para aqueles que o crucificaram e o mataram, e do qual voltaria tempos
depois punindo e castigando aqueles que não conseguiram permanecer fiéis às
suas palavras, não se pareceria em nada com as promessas maravilhosas que
jamais penetraram em algum coração humano.
Contudo, esse ainda não é o maior mal, pois se analisarmos friamente
o modelo de pregação que enfatiza a segunda vinda de Cristo, vamos perceber que
não há nada de inocente ou de ingênuo por trás dessas mensagens. Primeiramente
ela dá pouquíssima importância ao arrependimento, pois se assim fosse, teríamos
mil judeus tomando de imediato uma posição contrária às guerras no Oriente
Médio, mil judeus na porta do parlamento israelense pedindo a devolução das
terras palestinas, em vez de mil judeus preocupados com a sua salvação pessoal.
Está difícil encontrar nos nossos cultos algum momento em que o povo de Deus
seja conclamado a orar silenciosamente, refletindo acerca do seu pecado.
Esta primeira falha nos leva a cometer sem delongas ou
prescrições uma segunda falha mais perniciosa ainda. Sem arrependimento não
pode haver reparação do mal. Esta mensagem de novo nascimento apaga não somente
às minhas dívidas para com Deus, mas parece que cancela também as dívidas para
com o próximo. O que houve exatamente com o “vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão”?
Para não me estender muito, vou direto ao ponto. Esta mensagem
é de um imediatismo tão barato, que não tem qualquer poder de transformação ou
de simples influência sobre a essência maligna do ser humano. É exatamente por
causa dela que hoje temos evangélicos entre traficantes, cristãos entre sequestradores,
pastores e membros ilustres entre os mais vis corruptos do nosso executivo,
legislativo e judiciário. Ou seja, como dizia o Bezerra da Silva: não fica um, meu irmão.
Há, se a mensagem fosse: ele já veio e agora se vire, porque
é com você. Garanto que as igrejas não iam estar tão cheias. Garanto que os
artistas gospel não teriam tanta evidência. Garanto que o número de templos
seria bem menor. Garanto que Eduardo Cunha não seria eleito com o voto
evangélico. Mas tem uma coisa eu não posso garantir: de olhos fitos no que Jesus já fez, a magnitude do que ela ainda fará.
Nenhum comentário:
Postar um comentário