Jesus negro, Joe Cauchi |
Texto do rev. Jonas Rezende.
O episódio é bastante conhecido. Os apóstolos de Jesus querem poupar o Mestre, provavelmente num final de dia cansativo, e ameaçam impedir as crianças trazidas pelos pais que desejam a bênção de Cristo. Jesus não aceita ser poupado, mas ordena: “Deixem vir a mim os pequeninos.”
Não conheço um elogio maior às crianças do que este proferido por Jesus: “Dos tais é o reino de Deus.”
Creio que as crianças são modelos, não pela bondade ou perfeição. Quem não conhece as crueldades infantis diante dos defeitos? Quem já não viu uma criança impedir que o próprio írmãozinho partilhe os seus brinquedos? Aliás, essas crueldades e egoísmo são exercidos sem qualquer dissimulação. Jesus, no entanto, elogia a plasticidade dos pequenos, sua capacidade de crescer, de reformular, de não se prender a um único papel social — essas coisas todas que a esclerose da vida rouba dos adultos; a pureza que é manchada pela hipocrisia social.
Jesus elogia a vida-sempre-nova das crianças, mas adverte os adultos: “Não embaracem os pequeninos”. Ele sabe que podemos prejudicar as crianças com nossas próprias deformações e valores-sem-valor. Impedi-las de um crescimento harmonioso, como o do próprio Cristo: “Em estatura, sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens”.
Guerra Junqueiro, poeta português, repentista e temperamental, nos previne para que não formemos verdadeiros monstros:
As almas infantis são brandas como a neve, são pérolas de leite em urnas virginais; tudo quanto se grava e quanto ali se escreve cristaliza em seguida e não se apaga mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário