Você amará, pois, o Senhor seu Deus de todo o coração, de
toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de toda a sua força. Jesus Cristo
(Marcos 12.30)
Jesus, no texto acima, busca resumir para um escriba os
mandamentos de Deus. E começa por declarar que nosso amor ao Pai deve ser uma
entrega absoluta. Você, certamente, conhece este texto.
Peter Berger, importante sociólogo americano, nos fala que
existem várias vias para a percepção da realidade: a científica ou racional, a
poética, a artística como um todo, a mística. Ele está certo. É assim também o
nosso amor para com Deus: uma ligação da mente, da alma, das vísceras;
mobiliza-nos como um todo. E uma adesão sem limites, assim como se nos
plantássemos no ventre de Deus.
Há um vocábulo teológico que expressa este amor que nos
rouba toda a disponibilidade: fé.
Não se sabe quando Blaise Pascal, cientista e místico, teria
feito o verdadeiro holocausto de sua vida a Deus. Mas, após a morte do sábio,
foi encontrado um bilhete costurado em suas roupas. Além da data (noite de 23 e
madrugada de 24 de novembro de 1654), e de palavras meio desarticuladas, que
denunciavam êxtase e arrebatamento, Pascal escreve: “Deus de Abraão, Deus de
Isaque, Deus de Jacó; não o Deus dos filósofos e dos sábios...”
Quando, na verdade, confundimos nossas fronteiras com as de
Deus, o discurso filosófico é impotente para descrever esta experiência
existencial, que é puro amor em brasa, com o rosto da fé. Augusto dos Anjos diz
muito bem, em um de seus poemas, que há momentos em que a cabeça fervilha de
ideias e sentimentos, mas a língua se toma paralítica. Isto é, não temos fôlego
para explicar a voragem deste amor que nos faz nascer de novo. Porque, como
lembra o mesmo Pascal, “o coração tem razões de que a razão nada sabe”.
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