Grande dia da sua ira, John Martin em 1853 |
Em um vocabulário
variado, tanto em hebraico quanto em grego, a Bíblia descreve uma atitude espiritual
que é o contrário da piedade: o desprezo de Deus e da sua Lei, esta atitude
acrescenta ainda uma nuance de hostilidade e de fanfarronice. Paulo anuncia a
vinda do homem de impiedade por excelência, que nos últimos tempos se levantará
acima de tudo e se apresentará como Deus; e acrescenta que o mistério da
impiedade já está em ação no mundo. Na realidade, ele está em ação desde o
começo da história, desde que Adão desprezou o mandamento de Deus.
Primeiro Testamento
Os ímpios diante
de Deus.
A impiedade é um
fato universal da humanidade pecadora: impiedade da geração do dilúvio; dos
construtores de Babel; dos habitantes de Sodoma. Mas ela se afirma com clareza
particular entre os povos pagãos inimigos de Israel: do faraó perseguidor aos
cananeus idólatras; de Senaquerib o blasfemo à orgulhosa Babilônia; e à
Desolação da Abominação, Antíoco Epifanes. Contudo, nem o próprio povo de Deus
está dela isento: ímpios são tão os revoltosos do deserto quanto os habitantes
infiéis da terra prometida; ímpia é a nação pecadora contra a qual Deus envia
os pagãos que a castigarão. Apesar da conversão nacional, os salmistas e os
sábios denunciarão ainda depois do exílio a existência da impiedade no povo
fiel, e a crise macabeia colocará em primeiro plano certos judeus desviados.
Os ímpios e os
justos.
Na literatura
sapiencial o gênero humano aparece dividido em duas categorias: os justos e sábios,
os ímpios e insensatos. Entre os dois há uma oposição e uma luta fratricida
que já vai dando princípio ao drama das duas cidades. Iniciado nas origens com
Caim e Abel, esse drama irá se concretizar e aumentar em todos os tempos. É
nele que o ímpio dá livre curso aos seus instintos: astúcia, violência,
sensualidade, soberba; que despreza a Deus; e que se lança contra os justos e
contra os pobres. Seu êxito aparente, que por vezes pode durar um tempo, e que
causa uma verdadeira angústia às almas religiosas, se dá, antes de tudo, como uma
preocupação pela justiça, em que os perseguidos pedem a Deus a perdição
desses extraviados malfeitores e que antegozam uma vingança, que aos olhos da
modernidade causa estranheza e espanto: Sl 137.8-9 - Filha da Babilônia, que hás de ser destruída, feliz aquele que te der
o pago do mal que nos fizeste. Feliz aquele que pegar teus filhos e esmagá-los
contra a pedra.
A retribuição dos
ímpios.
Os fiéis da
Aliança sabem perfeitamente que os ímpios caminham para a ruína. Mas essa
tranquila afirmação da retribuição, imaginada ainda numa perspectiva temporal,
esbarra em fatos escandalosos. Há ímpios que prosperam como se não existisse a
sanção divina. A escatologia profética realmente assegura que nos últimos tempos
o Rei-Messias fará perecer os ímpios, e que Deus os exterminará por ocasião do
seu juízo; mas enquanto aguarda este último dia, ela não especifica como é que
os ímpios deverão expiar os seus crimes.
Mas é no plano
individual que a questão deve ser resolvida para todos, e tem-se que esperar
até uma data tardia para que ela se esclareça. Os livros dos Macabeus inferem que
todos os ímpios hão de comparecer pessoalmente ao tribunal de Deus, e que não
haverá para eles ressurreição para a vida. Por isso, o livro da Sabedoria pode
fazer a descrição de seu castigo final depois da morte. Essa atestação solene é
a fonte de uma reflexão salutar. Com efeito, Deus não quer a morte do ímpio,
mas que se converta e viva: Ez 33.11 - Dize-lhes: Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, não tenho prazer
na morte do perverso, mas em que o perverso se converta do seu caminho e viva.
Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois por que haveis de
morrer, ó casa de Israel? (continua)
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