Na parede a mão de Deus

Na parede a mão de Deus escreveu, afresco em Duro-Europos
Então, da parte dele foi enviada aquela mão que traçou esta escritura. Esta, pois, é a escritura que se traçou: MENE, MENE, TEQUEL E UFARSIM. Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino e deu cabo dele. TEQUEL: Pesado foste na balança e achado em falta. UPHARSIM: Dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas. Leiam Daniel 5.1-30

O fascinante da Bíblia é que quanto mais obscuro e enigmático é o seu texto para os nela não creem, mais revelador e profundo é para os que têm ouvidos atentos às suas palavras. Jesus já havia afirmado exatamente isso em oração: Lc 10.21 - Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Dentro desse princípio nos reparamos com o texto de Daniel. Nele se revela o verdadeiro propósito da profecia, nele são apresentadas todas as armas que os profetas dispunham e nele está inserido o julgamento de Deus sobre as nações opressoras. Em palavras simples e objetivas, a mão escreveu na parede toda a perspectiva de um reino que se mantinha de pé através da espoliação dos mais fracos. É para a esperança destes que a mão vem anunciar o fim de mais um período trágico da história humana. Vejamos o sentido das palavras e de que modo elas pegaram de surpresa um reino que se julgava eterno.

MENE, MENE
Contado e numerado. A expressão se repete para confirmar que os olhos de Deus estão atentos às iniquidades. Serve também para confirmar que esta não é uma atitude repentina, ou simplesmente uma retaliação extemporânea, mas que já vem sendo avaliada e planejada há muito tempo. Estes são os números negativos de uma história que não começou com o atual monarca, mas que vem sendo constantemente opressora através das gerações. O profeta se baseia em fatos. Comparando o que está acontecendo com a vontade de Deus, ele descobre desde a mais sutil falta a mais cruel injustiça. Belsazar pode muito bem estar andando lépido e fagueiro entre nós, mas seus dias estão contados, pois já foram numerados.

TEQUEL
Pesado foste na balança e te encontraste em falta. Encontramos aqui a diferença fundamental entre a profecia bíblica e os agouros e imprecações próprios das religiões pagãs. A profecia não atira flechas envenenadas indistintamente contra os inimigos, mas lança sobre todos um julgamento justo. Ainda mais justo que o de Anúbis, o deus egípcio que media o peso do coração dos homens contra o de uma pena, determinando assim a sua salvação ou perdição. O julgamento dos profetas levava mais em conta as omissões do que propriamente o ato consumado. Aqueles que não fazem a associação do ministério de Jesus com o ministério profético deveriam dar uma olhada nos argumentos do grande julgamento proferido por ele em Mt 21-41-43: Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me.

UPHARSIM
Teu reino foi dividido. O fim de um reinado é algo muito doloroso para todos. É um momento de transição perigoso e incerto, mas é assim que se anuncia a mudança. Ela nunca vem sobre nós de forma pacífica e tranquila, pois é o momento de decisões. O que vou querer para minha vida? Que rumo vou tomar neste deserto que me encontro? Os judeus guiados por Moisés queriam voltar para as panelas de carne no Egito. Preferiam o sabor suculento da carne na amarga opressão do que o maná ainda sem gosto no breve suspiro de liberdade. A profecia não bota panos quentes e nem adoça a boca dos seus interlocutores. O reino de Belsazar está no fim, mas alegrias do novo Reino de Deus ainda estão mais no terreno das promessas do que efetivamente em nossas mãos.

A mão de Deus continua escrevendo na parede. Embora seja de forma de forma sutil nas paredes dos nossos corações, a mensagem continua a mesma. De forma poética, porém, contundente, assim anunciava o hino Na parede a mão de Deus, que há muito já está esquecido pelas nossas igrejas.

Pesado fostes na fiel balança e achado em falta foi teu coração
Teu reino então será de ti tomado e dado ao povo de outra nação
A morte hoje bate a tua porta, e a angustia chega ao coração
E a palavra de um Deus eterno e ao rei que ouviu a sua voz e disse não.

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