É quase amor!

I Coríntios 13, videoadoracao.blogspot.com
Leia I Coríntios 13 

Texto do rev. Edson Fernando.

Amor, palavra gasta no vocabulário contemporâneo. Está presente nas revistas, programas de TV, jornais, igrejas etc. Em resumo: o amor se presta a uma espécie de amuleto simbólico para o sonho de superação dos dilemas da existência individual e coletiva. Em tempos de blocos carnavalescos, o nome de um dos mais famosos blocos de Ipanema dá o que pensar: Simpatia é quase Amor. Então, à luz da página mais linda das Escrituras poderíamos dizer que também:
Humildade é quase amor.

O texto está inserido no seguinte contexto: Os capítulos 12 e 14 de I Coríntios, que destacam duas coisas fantásticas:
Primeiro: A multiplicidade de carismas e a unidade do Espírito. Lá encontramos os talentos, os dotes, as múltiplas habilidades como expressões de uma mesma fonte: O Sopro do Espírito. Os carismas não são nossos. São-nos dados por empréstimo, para que os administremos. Jesus já havia nos advertido através da parábola dos talentos. É graça, é de graça, é um presente!

Segundo: Os talentos são dados a todos visando um fim proveitoso: a edificação do corpo, da comunidade.
Se eu falo as línguas dos homens e dos anjos;
Se eu tenho o dom da profecia;
Se eu sei os mistérios todos;
Se eu tenho toda a fé do mundo;
Mas se não tenho amor: nada sou.

Se eu entrego os meus pertences;
Se eu dou o meu corpo;
Mas se não tenho amor: em nada sou útil.

A atenuação dos impulsos do ego, o fato de não levar-se muito a sério, poderíamos dizer também que é quase amor. As definições paulinas sobre o amor, as características não abstratas de uma abstração, os aspectos bons que produz e aspectos negativos que não produz:
O amor tem paciência;
O amor é benigno;
Não arde em ciúme;
Não se acho o máximo;
Não se ensoberbece;
Não envergonha (não se conduz inconvenientemente);
Não procura as coisas de si;
Não fica calculando o mal;
Não se alegra com a injustiça;
Mas se alegra com a verdade.

Tudo suporta,
Tu crê,
Tudo espera,
Em tudo persevera.

O ansiar pelo o amor é quase amor.
Paulo parece fazer uma ligação entre a insuficiência daquilo que consideramos como verdadeiras “posses sagradas”, que são tão fundamentais, mas que frequentemente são apenas presas do nosso sagrado ego, com fragmentos não conectados com algo maior, pois sem o amor, de nada servem.
O amor nunca acaba;
Se há profecias, serão anuladas;
Se há línguas, cessarão;
Se há conhecimento, será aniquilado.
Em parte conhecemos, em parte profetizamos...
Quando vier o todo, então o “em parte não fará mais sentido”.

Sair da direção do fragmento e ir em direção ao todo... é quase amor.
A passagem do humano ao divino, da criança ao adulto,
Da visão no espelho, à visão direta.
A conhecer como sou conhecido.

Talvez por isso o paradoxo: quanto mais queremos, mais ansiamos, mais nos sentimos distantes dele. Então: persegui o amor!!!! Como encontrado na significativa poesia de Fernando Pessoa, “Ali não havia eletricidade”

Ali não havia eletricidade.
Por isso foi à luz de uma vela mortiça
Que li, inserto na cama,
O que estava à mão para ler –
A Bíblia, em português (coisa curiosa), feita para protestantes.
E reli a ‘Primeira Epístola aos Coríntios”
Em torno de mim o sossego excessivo de noite de província
Fazia um grande barulho contrário,
Dava-me uma tendência do choro para a desolação.
A “Primeira Epístola aos Coríntios”....

Relia-a à luz de uma vela subitamente antiquíssima,
E um grande mar de emoção ouvia-se dentro de mim...
Sou nada...
Sou uma ficção...
Que ando eu a querer de mim ou de tudo neste mundo?
Se eu não tivesse a caridade...
Meu Deus, e eu que não tenho a caridade!

A iluminação: Perceber o amor na forma da sua carência, como está em Gênesis 26.16: Deus estava ali e eu não sabia.

Por último o soneto de Camões, que Renato Russo entrelaçou com o texto paulino para construir a canção Monte Castelo.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Nenhum comentário:

ads 728x90 B
Tecnologia do Blogger.