Romanos – introdução e contexto.

Incêndio de Roma de Hubert Robert (1733-1808) 
O blog Amós Boiadeiro experimentará uma alternativa diferente da que vinha praticando até então.Passaremos ocasionalmente  a nos dedicar ao estudo de um livro da Bíblia em particular. Contudo, estaremos sempre propensos a mesclar este estudo com  meditações que se façam necessárias ou circunstanciais. O livro escolhido, após minuciosa seleção, foi aquele que é o maior e mais completo tratado de teologia bíblica já escrito até hoje. Foi o livro que motivou Martinho Lutero a promover a Reforma na igreja Cristã, assim como inspirou John Wesley no dia em que sentiu seu coração aquecido de forma estranha. Estamos falando da epístola que Paulo, o apóstolo dos não judeus, escreveu objetivamente para os desconhecidos e problemáticos cristãos de Roma.

Contexto cristão
Estamos no ano 56 da nossa era, e Paulo encontra-se em Acáia, após o término da sua terceira viagem missionária. Em uma estada de três meses ele escreveu esta epístola, e, antes de partir para Jerusalém, designou Febe, diaconisa de Cencréia, como portadora. O evangelho já havia sido anunciado e aceito na parte ocidental do Mediterrâneo, e agora, o apóstolo que se recusava terminantemente a semear sobre a obra de outro, planejava evangelizar a Espanha. Para levar a cabo a desafiadora tarefa não poderia mais contar com a Igreja Mãe, pois além de estar financeiramente arrasada, ficava muito distante, o que a impossibilitava de ser, como havia sido até então, a base do empreendimento missionário.
A origem da Igreja de Roma é desconhecida. Não foi fundada por Paulo e nem por outro apóstolo conhecido. Problemas que são revelados no corpo da carta são fortes indícios de que ela foi uma obra de viajantes judeus cristãos que migraram para Roma, fugindo da crise financeira que assolava todo o império. 

O número dos cristãos em Roma, nesta época, já era maior do que quarenta mil, e, em sua maioria, era formada por judeus que foram levados cativos por Pompeu, e que foram soltos mais tarde, passando assim a serem chamados de libertos. Esse agrupamento espontâneo de fiéis imediatamente levantou suspeitas por parte da guarda imperial, que em 49, por ordem do imperador Cláudio, havia expulsado os judeus de Roma, e que estavam voltando, após a morte deste, por beneplácito de Agripina, mãe de Nero, e Pompéia Paulina, esposa de Sêneca, seu tutor, ambas simpatizantes dos judeus.

O motivo da simpatia de Pompéia é desconhecido, mas o de Agripina é bem conveniente, uma vez que estava sob suspeita do envenenamento de seu tio e esposo Cláudio, beneficiando diretamente seu filho Nero. Há quem sustente a tese de que toda a trama fora financiada pelos exilados, que estavam decididos a voltar à capital. Com o retorno dos judeus cristãos a igreja viveu momentos de tensão e agitação, o que justificou a citada desconfiança da polícia romana e a colocou na ilegalidade as reuniões de culto. Suetônio, escritor romano, descreve que as varias agitações ocorridas entre os judeus eram promovidas por um certo Cresto. Convém lembrar que as vogais E e I em latim possuem sons bem parecidos.

A comunidade cristã de Roma, que era composta de convertidos do paganismo, via-se livre dos elementos judaicos impostos pelos judeus cristãos em seus cultos, e passou a adotar costumes próprios, que foram, de forma contumaz, condenados pelos judeus em seu regresso. É a esse contexto heterogêneo e fervilhante que Paulo dirige a sua carta. Podemos verificar nos capítulos 14 a 16 que Paulo tinha poucas informações a respeito do que estava acontecendo ali, e daí percebermos a sua dificuldade em contar com uma igreja tão problemática como sede do seu maior desafio missionário.

Contexto romano
Roma, o centro do Império Romano, estava atravessando uma dramática crise financeira ocasionada pelo descontrole do governo do Imperador Gaio, conhecido por Calígula. Seus gastos exorbitantes levaram o império a um caos econômico que só pôde ser sanado com os tesouros confiscados do templo de Jerusalém no ano 70. Cláudio nada mais fez do que administrar dívidas, passando ao seu sucessor um problema tão grande quanto o que recebera. Seu afilhado Nero, por sua vez, não tomou conhecimento da situação, e aumentou ainda mais o rombo financeiro do estado. Seu maior desvario foi a reconstrução de Roma, que o levou a provocar um enorme incêndio que devastou boa parte da capital. Em um possível conluio com os judeus que haviam patrocinado a sua ascensão ao trono, convenientemente culpou os cristãos pela tragédia, o que ocasionou a primeira perseguição oficial a este grupo.

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