Parasitas

A melhor imagem de Jesus: um túmulo vazio
Por definição biológica, parasita é um organismo que vive de e em outro organismo, dele obtendo abrigo, alimento e não raro causando-lhe dano. Mas o que está valendo para os dias de hoje é a definição pejorativa que diz ser o parasita um indivíduo que vive à custa alheia por pura exploração ou preguiça. A despeito do filme sul-coreano que leva esse nome ter sido o maior vencedor do Oscar 2020, é fato notório que essa mesma palavra também tem servido para atingir de forma ofensiva adversários políticos de todas as facções, como também a funcionários públicos. Mas fiquem tranquilos, pois essa reflexão não tem por pretensão abordar nenhum dos aspectos anteriores, mas confrontar a extensa mídia parasitária que sobrevive há milênios à custa da fé cristã.

Vamos falar particularmente do pretenso aviltamento que tentam impingir as supostas imagens de Cristo, quando estas, na verdade, têm sido usadas com exclusividade para angariar muitos likes e dislikes nas redes sociais e, a reboque, muito dinheiro também. Pessoas travestidas com túnicas brancas, normalmente de porte esquelético, que nos seus gestos obscenos ou grotescos estão querendo insinuar uma nova imagem de Cristo que pareça mais atual e mais real. Não fazem a menor ideia de que a imagem que os cristãos em sua maioria têm de Cristo o relaciona com um mestre de Israel, um curandeiro que andou na Palestina fazendo o bem, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo ou, no entender dos samaritanos, o Salvador do mundo ou todas elas juntas. O que temos de Nosso Senhor são imagens irretocáveis, principalmente por não serem dimensionais ou corpóreas e que orbitam há anos luz das atuações teatrais patéticas que tentam nos mostrar.

Não faz muito tempo que uma certa página no Facebook chamada Porta dos Fundos foi o cerne da mensagem em muitos púlpitos de igrejas locais, como também foi o assunto primordial dos pastores televisivos. O foco agora é o próximo desfile da Escola de Samba Mangueira, que em seu enredo faz citações a um tal Jesus de Nazaré que, particularmente, não faço ideia de quem seja e que, como sugerido pelo samba enredo, em nada se assemelha ao Jesus de Nazaré dos evangelhos. Então, por que temos que meter o bedelho em um assunto que não nos diz respeito, quando temos uma infindável agenda de compromissos com o Reino de Deus? Por que se empenhar em lutas estranhas quando temos lutas próprias para travar? Na pior das hipóteses deveríamos seguir os ensinos do apóstolo Paulo, que em Filipenses 1.18 diz: Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei.

O que causa revolta é que os arautos da Palavra de Deus que deveriam focar exclusivamente na imagem de Jesus, o Cristo de Deus, imagem essa que uma magnânima cadeia de fidelidade nos legou por propiciar que os evangelhos chegassem até nós, estão dando atenção e desperdiçando o tempo da igreja com esses ou essas caricatas, fazendo com que dessa forma adquiram às nossas expensas a popularidade que não teriam, caso não precisassem lançar mão de seus recurso chulos.

Certa ocasião, por volta dos anos 1960, quando assistia uma luta do Cassius Clay, ouvi os seguintes comentários dos locutores: Vejam como o público odeia esse boxer!  Clay, um jovem lutador, era mesmo um bravateiro, que além de se dizer o maior de todos os tempos ainda se considerava a enciclopédia viva do boxe, daí o expresso ódio do público por ele. Porém, imediatamente o outro locutor complementou: Vejam quanta gente pagou para odiá-lo! Tínhamos que aprender também com esse homem. Não podemos mais alimentar esses parasitas da nossa fé, mesmo porque já temos outros tantos parasitas domésticos com que nos preocupar.

Disse Jesus à aristocracia de Jerusalém: Se eles se calarem as pedras clamarão. Pois é, a respeito desses parasitas as pedras já clamaram há muito tempo na poesia Parasitas de Guerra Junqueiro.

No meio duma feira, uns poucos de palhaços 
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento, 
E o monstro arregalava os grandes olhos baços, 
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.

E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos, 
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz, 
Que andais pelo universo há mil e tantos anos, 
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

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