Absurdo é Deus

Pedro e Simão, o mago. Avanzino Nucci
Quando um cristão lê na Bíblia, em I Coríntios 2.9, o que Paulo, seguindo a linha da profecia de Isaías 64.4, diz: Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam (NVI), imediatamente o seu pensamento começa a contabilizar os vários tipos de benesses que Deus tem para lhe dar. Este é o momento em que ele tenta imaginar o inimaginável, pensar o impensável e conceber o inconcebível. Em outras palavras, é o seu mergulho de cabeça naquilo que o restante da humanidade chamaria de absurdo. Mas ainda que não seja possível de se ter qualquer tipo de compreensão sobre esse assunto, para o cristão não há absurdo, não quando ele diz acreditar no Deus dos impossíveis ou no Deus dos absurdos, como dizem alguns, mas quando ele entende que absurdo é o seu Deus. Isso mesmo, absurdo é Deus.

Quando ele crê nisso, passa a crer também que todas as coisas, todos os fatos, todas as possibilidades e todas as expectativas passam a figurar abaixo da linha do absurdo. Essa é experiência deixada para nós por Tertuliano, um dos pais da igreja, que no final do século II, dizia: Creio porque é absurdo. Porque se não fosse absurdo, não haveria necessidade da fé. 

Mas de nada adiantaria citar Tertuliano, Paulo ou Isaías ou mesmo ficar falando que Deus é absurdo sem mostrar as diversas reações de pessoas que testemunharam esse absurdo nas suas vidas.

O absurdo pareceu estarrecedor para Israel (Jacó). Gênesis 48
Já fazia mais de muitos anos que Jacó amargava a notícia da morte de seu filho José. Suas esperanças há muito haviam se dissipado e só lhe restava o arrependimento de ter enviado José para aquela fatalidade. Foi quando no final de sua velhice, José, que aos olhos do pai havia ressuscitado, mostra-lhe seus dois netos. Jacó não cabendo em si diante de um absurdo jamais concebido e que, naquela hora, Deus estava lhe concedendo presenciar, exulta dizendo: Nunca pensei que veria a sua face novamente, e agora Deus me concede ver também os seus filhos! (NVI)

A incredulidade de Naamã na simplicidade do absurdo. II Reis 5
Naamã, general supremo dos exércitos da Síria, foi diagnosticado com hanseníase. Já havia sido tratado pelo expoente da medicina da sua época, sem obter qualquer resultado animador. Foi aí que uma escrava adolescente hebreia lhe disse: Se o meu senhor procurasse o profeta que está em Samaria, ele o curaria da lepra. Mesmo sem convicção foi ter com Eliseu, em Israel, que se dar a devida importância à sua autoridade, mandou dizer-lhe literalmente que fosse tomar banho. Agora é que o general sírio não iria acreditar mesmo, pois toda a sua expectativa se fundamentava em que somente um grandioso espetáculo pirotécnico de magia seria bastante para restaurar-lhe a saúde. Nunca, jamais, em tempo algum uma simples e desaforada sugestão. Se fosse apenas isso, ele o faria nas águas do seu país, mais abundantes e mais saudáveis. Não creu que um Deus absurdo pudesse se manifestar de maneira tão simplista, até ser persuadido por um dos seus servos, ser curado e expressar as sua nova condição de saúde física e mental com as seguintes palavras: Agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel.

Simão e a sua frustrada tentativa de comprar o absurdo. Atos 8
Simão impressionava o povo de Samaria com a sua magia e obtinha altos lucros com ela. Ao ouvir a pregação libertadora de Filipe, converteu-se ao evangelho e abandonou as práticas pagãs, ao reconhecer que aquele diácono possuía o verdadeiro poder. Contudo, mais estupefato ficou quando viu o poder absurdo que Pedro e João liberavam quando impunham suas as mãos sobre as pessoas em nome de Deus. O mago, que conhecia o poder de manipulação que lhe conferia ganhos, estava agora intencionado a gastar o que tinha para possuir esse poder excepcional. Que Deus mande você e o seu dinheiro para o inferno! Você pensa que pode conseguir com dinheiro o dom de Deus? Fez Pedro àquele desavisado essa pergunta oportuníssima para os dias de hoje.

Há em muitas igrejas todo um aparato de pessoas munidas de literatura conveniente para provar a existência e Deus e contra-argumentar as alegações do ateísmo. Todo esse esforço concorre no sentido de que Deus entre na vida das pessoas pelo entendimento e pela lógica. Tudo isso é vão diante do que nos ensinaram os pais da igreja. Não havia e ainda não há maneira melhor de mostrar que Deus existe senão por meio daquilo que não se podia de forma alguma ser explicado e entendido: o testemunho de fé que deixa a toda ciência de joelhos. Santo Agostinho foi o mais incisivo deles, quando afirmou. Se você entender, não é Deus.

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