Fundamento do karma, autor não identificado |
Um caminho para mim
traçou, diz a letra do hino Deus tem um plano, que é muito cantado em
nossas igrejas. Esse é o resultado prático da pouca atenção que os cristãos de
hoje têm dado ao sentido das palavras com que são usadas nas músicas que
compõem a hinologia atual. Por alguma
lógica contida nas Escrituras não poderia ser que a ideia de um caminho traçado
esteja mais para Tetê Espínola em Estava escrito nas estrelas do que propriamente
para Sarah Poulton Kalley em Direção Divina (350 HE)? Não estaria esse verso
mais afeito ao carma budista do que ao conceito de Iahweh yireh , Deus proverá? Já paramos para pensar que o fatalismo
proposto por esse hino entra em reta de colisão com a disposição de um Deus,
cujas misericórdias se renovam a cada manhã?
Porém, se as misericórdias que se fazem novas, que são
inéditas a cada manhã e que são nos dadas gratuitamente para suprir cada
necessidade, para alentar cada esperança e perdoar cada pecado não sirvam de
argumento suficiente, vamos nos lembrar de que Deus não entra e interfere na
nossa vida de supetão. Ele não arromba, mas bate à porta. O Salmo 115.6 diz: Os céus pertencem somente ao Senhor, mas a
terra ele deu aos seres humanos. Até mesmo para fazer valer o seu plano de
salvação, Deus não veio ao mundo dos homens como Deus, mas esvaziou-se da sua
divindade e assumiu a forma de servo para habitar entre nós. O verbo habitar
foi traduzido do grego ékenosen, que
significa tabernáculo. Melhor seria dizer que Deus “tabernaculou”, armou a sua
tenta tenda entre nós. Paulo na narrativa mais centrada do nascimento de Jesus,
diz em Gálatas 4.4: veio como filho de
mãe humana e viveu debaixo da lei.
Todos esses elementos apontam para Deus que não tem na mão
uma agenda que consulte para decretar a sequência dos acontecimentos, mas que, do
nada, chama à existência uma perspectiva inédita que vai se descortinando a
cada nova situação, a cada novo desafio, para nos dar um novo recomeço, para
nos tornar uma nova criatura. No texto sagrado, mais abundantemente no livro de
Jó, encontramos todo um processo de desconstrução da doutrina da causa e efeito,
muito comum no Budismo, no Hinduísmo e no Espiritismo. Muito embora algumas
doutrinas protestantes se fundamentem na predestinação, mesmo essas não podem
considerar que a presciência de Deus seja a causadora do fato, pois seria
atribuir a Deus toda e qualquer origem do ato pecaminoso.
Deus tem um plano em cada criatura? Sim, porque assim
determinou para a criação suas leis eternas e imutáveis; Deus enumera cada grão
de areia? Sim, porque o universo foi criado com inteligência para que nada
transgrida a sua harmonia; Para cada rio ele dá um leito? Sim, mas a vereda dos
justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia
perfeito.
Nada que esteja escrito nas estrelas ou em qualquer outro
lugar pode minimamente ofuscar a mensagem da novidade que a Palavra de Deus nos
traz. Portanto, absolutamente nada em nossa vida está fatalizado ou
determinado, mesmo que seja assim cantado por muitos com a melhor das
intenções.
Que esteja plenamente convicta a igreja que o caminho, para
aqueles que querem se valer das Escrituras para orientar as suas vidas, é
sempre o caminho do novo, do nunca visto, do jamais imaginado e do sequer
cogitado. Pois, o que ninguém nunca viu nem ouviu, e o que jamais alguém
pensou que podia acontecer, foi isso o que Deus preparou para aqueles que o
amam.
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