A ressurreição de Lázaro, János Vaszary |
Relutei
muito antes de postar a mensagem de domingo próximo passado, porque ela poderia
levar as pessoas a pensar que eu estava querendo mostrar contradições que, por
ventura, estariam contidas na Bíblia. Mas a intenção era justamente o oposto.
Era mostrar que os diversos pontos de vista e as diferentes interpretações dos
autores bíblicos não se excluem e menos ainda promovem confusão. As contradições
somos nós que as criamos quando interpretamos o texto sem o conhecimento
necessário ou por conveniência doutrinária. Atrevo-me a dizer que contradição é
hoje o grande negócio da igreja. A contradição é o que nos leva a escolher uma
igreja em detrimento de todas as outras. A contradição é o que leva a crer que
nossa igreja é mais evangélica do que todas as outras. A contradição é o que
nos leva a apostar o nosso dízimo nesta e não naquela igreja. A escolha da
contradição certa é o fator preponderante que pode nos levar até o céu mais
rápida e facilmente do que a contradição errada que foi abraçada por outra
pessoa, uma vez que o objetivo único na escolha de uma igreja é a garantia de
que ela irá nos livrar do inferno, do lago de fogo e enxofre, do reino de
Satanás e irá garantir a nossa salvação individual.
Para
termos uma ideia mais precisa do que estamos tratando, basta vermos que método
de salvação tem sido por séculos o cerne da discussão entre calvinistas e
arminianos, e também o grande divisor de águas entre as denominações cristãs. O
dilema maior que existe na cabeça de um cristão é a adesão ao método de
salvação que Deus se valerá no juízo final. Eis aí o texto, motivo da discórdia:
Romanos 8.29-30 (ARA): Porquanto aos que
de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu
Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que
predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também
justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Em resumo:
todo aquele que vê a si mesmo corretamente encaixado nesse texto, vai pro céu.
O
caminho que leva para o céu é o que mais procuramos quando lemos a Bíblia,
tanto é assim que não importa quem escreveu o texto bíblico, para quem escreveu
ou mesmo com que intuito escreveu, lemos a Bíblia da seguinte maneira:
Eu sou a ressurreição e a vida.
Quem crê em mim, ainda que morra, vai pro céu; e quem vive e crê em mim
nunca morrerá, mas vai pro céu.
Eu sou o pão da vida. Quem vem a
mim, vai pro céu, e quem crê em mim, vai pro céu.
Porque Deus amou o mundo de tal
maneira, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não
morra, mas vá pro céu.
No entanto, não sei se li direito, mas não consegui encontrar
absolutamente nada no texto de Romanos 8 que fale sobre salvação, que instrua
de como nos livrarmos do inferno ou que nos dê uma diretriz sobre quem vai ou
como se vai pro céu. Fala sim, que Deus nos conheceu, nos predestinou, nos
chamou, nos justificou, nos glorificou para sermos a imagem do seu Filho, e
esse é o grande problema. Para sermos a imagem de Cristo a primeira coisa que
devemos fazer é abrir mão do céu, pelo menos desse céu após a morte que é o que
preenche o imaginário do cristão do
nosso tempo.
Em João 11 encontramos uma história que exemplifica bem o que estamos
falando. Não era exatamente sobre a ida do seu irmão para o céu que Marta tinha
em mente, quando falava com Jesus sobre a ressurreição de seu irmão Lázaro? Eu sei, replicou Marta, que ele há de
ressurgir na ressurreição, no último dia (Jo 11,24). Aí vem Jesus e diz: Vamos acabar com esse negócio de esperar
morrer para ir para o céu. De esperar morrer para ter uma vida plena. De
esperar morrer para ver cumpridas as promessas de Deus, meu Pai. Eu vou mostrar
que sou senhor da vida, agora, e não somente depois da morte. Eu vou
ressuscitar Lázaro, agora, para que vocês deixem de pensar bobagem a respeito
do meu senhorio sobre essa vida que vocês estão vivendo. Eu vou trazer o céu pra vocês, aqui, agora.
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