Os abomináveis adoradores do mal |
É curioso também a escolha das ocasiões propícias para que esses
depoimentos se tornem ainda mais relevantes. Se é época de carnaval, nada mais
inspirador do que o depoimento de uma ex-passista da ala das baianas da
Mangueira. Tem que ser da Mangueira. Quando a população fica sabendo da
distribuição de uma grande quantidade de drogas ou da ação ousada de uma facção
criminosa, aí é a hora do ex-traficante entrar em cena e contar a sua história.
Nada mais sensato no Halloween do que
ouvirmos os “causos” edificantes dos ex-bruxos e ex-bruxas, para nos tornamos melhores
cristãos e para sermos politicamente corretos. Foi exatamente o que se viu nas
redes sociais durante a semana próxima passada.
Fico aqui me perguntando: o que um ex-bruxo pode me transmitir, senão
bruxaria? O que um ex-traficante pode me dizer, senão como fugir da polícia?
Tenho pena das baianas, porque terão uma dificuldade imensa para me ensinar a
sambar, ainda mais com aquele negócio na cabeça.
Imagino o auê que seria se o
apóstolo Paulo entrasse numa das nossas igrejas e visse isso. Ele diria: Pô! Depois da minha conversão na estrada de
Damasco eu passei dez anos na prateleira esperando a oportunidade de ser
meio-oficial de ajudante do Barnabé, e esses caras que chegaram aqui ontem, que
não sabem nem achar livro de Habacuque na Bíblia, já estão pregando? E olha que
eu tenho pós-doutorado em Teologia do Antigo Testamento. Imagino também
Pedro, em Samaria, se sentando para ouvir e aprender a sabedoria exotérica de
Simão, o mágico.
Essa maneira de viver a fé cristã minimiza a importância e negam a eficácia
de pelo menos três poderes a nós conferidos pelo evangelho. O primeiro é o
poder que temos sobre o constrangimento ou cerceamento do mal. A presença de um
discípulo de Jesus o mal tem que fazer o mal recuar ou ficar no mínimo constrangido.
Na presença de um discípulo de Jesus o mal não pode ficar bem. Enquanto as duas
testemunhas do capítulo 11 do Apocalipse estavam presentes elas constrangeram
tanto o mal que este teve que matá-las para poder prosperar.
A segunda diz respeito ao que Jesus falou para os seus discípulos em
Mateus 16.19: Eu darei a você as chaves
do Reino dos céus; o que você ligar na terra terá sido ligado nos céus, e o que
você desligar na terra terá sido desligado nos céus. Às duas
testemunha citadas foi dado o poder de fechar e abrir o céu. Se um discípulo
recebe do evangelho um poder inconcebível como esse, quanto maior não seria o
seu poder de ligar uma festa popular aos desígnios de Deus.
O terceiro vai nos alertar sobre o poder purificador do evangelho. No Levítico encontramos uma série de
determinações de como as coisas ou pessoas impuras contaminam as coisas e
pessoas puras, mas vem Jesus e, para a perplexidade de todos, subverte todo esse
complexo de leis. Quando Jesus é tocado pela mulher com fluxo de sangue, não é Jesus que fica impuro e sim a mulher que fica pura. O mesmo se deu com leprosos,
pecadores e cadáveres. Por que motivo um cristão não poderia, pela sua participação,
purificar o ambiente à sua volta?
Disse, certa vez o bispo Paulo Aires: Estamos formando uma geração de crentes nanicos na fé. Uma geração
de supersticiosos, que tem medo de diabo, de mal olhado e chinelo virado e que
ainda se valem das simpatias da velha tia. Evangélicos que ficam elucubrando se
Carnaval é de fulano, se São João é de ciclano ou se Halloween é de beltrano, mas não sabem que o Reino desse mundo já
passou a ser do nosso Senhor e de seu Cristo e que ele reinará para sempre. Foi
para a liberdade que Cristo nos libertou, não para ficarmos com medo do mal que
pode nos fazer uma festa popular.
Gente, esse pessoal não sabe nada. Não entende ainda o alcance da graça
de Deus. Não conhece a liberdade que temos em Cristo. Nunca leu que é Senhor quem
perdoa todos os meus pecados, que cura todas as minhas doenças; me salva da
morte e me abençoa com amor e bondade.
Mal digeriu a experiência pela qual passou para chegar até aqui. Eles todos têm,
tão somente, que sentar e ouvir. Não podem subir no palco ainda. Não são
protagonistas sequer das suas vidas. Não servem de exemplo, senão para mostra o
que não se deve fazer, coisa que os adolescentes nem sabem ainda que é feito.
Martinho Lutero foi um oponente rigoroso às doutrinas da carta de
Tiago. Ele dizia que esta era uma epístola de palha, pois ela fala
insistentemente sobre as rígidas condutas que nos seriam impostas pela fé
cristã. Mas ele vai mais longe do que simplesmente relevá-las. Ensina
justamente o contrário do que elas determinam, quando diz: Estas almas piedosas que fazem o bem para chegar ao céu não somente não
o alcançarão, como serão arranjados entre os ímpios; e importa mais em
impedi-los de fazerem boas obras que pecados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário