O maior perigo da idolatria

Idolatria. Sarolta Ban

Que fiquem iguais a esses ídolos aqueles que os fazem e os que confiam neles! Salmo 115.8

Tanto no mundo das Bíblia quanto no atual o que se opõe frontalmente à fé não é o ateísmo, como pensam alguns. O que mais se vê nas igrejas é uma batalha sem trégua contra aqueles que não depositam a sua fé em uma divindade, mais particularmente à fé no Deus cristão. Para o cristão tradicional o ateu não apenas será condenado, mas já está condenado a queimar no mármore do inferno. Mas por que será que o enfoque bíblico aponta um caminho totalmente diferente? Pelo que se pode conferir, o grande embate dos profetas e mesmo de Jesus foi contra a idolatria, principalmente a que está presente de todas as formas, mesmo as mais sutis, no culto a Deus.

Por outro lado, existem aqueles que pensam que o grande mal da idolatria é a adoração aos ídolos. O descumprimento do primeiro mandamento tornou-se o motivo pelo qual os evangélicos batem impiedosamente nos católicos. Esses da mesma forma se enganam. Pois quem impôs esse mandamento foi Moisés, embora ele mesmo tenha feito uma serpente de bronze no deserto. Quando o Cristo encarnou, mostrou-nos a verdadeira imagem de Deus. Melhor dizendo: Levou esse mandamento à sua plenitude. Mas qual seria essa plenitude? No saber do salmista, que viveu sob um pensamento acerca de Deus bem mais evoluído que Moisés, o maior perigo que a idolatria pode nos fazer é nos tornar iguais aos seus ídolos. Então, por que disso tudo? Quais são as maléficas consequências que podem nos advir desse mal? O salmo citado as descreve com detalhes precisos. Ter boca, mas não poder falar. Ter olhos, mas não poder enxergar. Ter ouvidos, mas não poder ouvir. Ter mãos, mas não poder apalpar. Ter pés, mas não poder andar. Ter nariz, mas não poder cheirar. Essa, no pensamento bíblico tardio, é a grande maldição que o ídolo traz consigo.

Se observarmos bem vamos ver que a maioria dos milagres de Jesus, milagres esses que o evangelista João chama de sinais, também apontam nessa direção. Tem boca, mas não fala. Mt 9.32 – Jesus curou um mudo.Tem olhos, mas não vê. Mc 10.46 – Jesus curou o cego Bartimeu. Tem ouvidos, mas não ouve. Mc 7.31 – Jesus curou um surdo gago. Tem mãos, mas não apalpa. Mt 12.9 – Curou um homem com a mão mirrada. Tem pés, mas não anda. Mc 2.1 – Jesus curou um paralítico que literalmente caiu do telhado. Ou seja, grande parte do ministério de Jesus foi orientado no sentido de desfazer os males causados pela idolatria. Contudo, João bem o disse, que esses eram tão somente sinais. Quando falamos que Jesus curou aquelas pessoas pontuais pensamos que foram curadas apenas aquelas pessoas portadoras de doenças físicas ou mentais advindas de males congênitos ou de acidentes. Mas não foi somente isso. Os sinais de Jesus são bem mais abrangentes.

A nossa necessidade de cura – Lembremo-nos que na Bíblia cura é sinônimo de salvação – se estende a situações mais comuns e corriqueiras. Reconhecemos as muitas vezes que nós mesmos nos tornamos inoperantes e inertes ante ao pecado tal qual os ídolos. Sabemos bem que existem entre nós muitos cristãos que não têm olhos para a injustiça à sua volta. Outros tantos que não abrem a boca contra a tirania dos opressores. Existem também aqueles que têm mãos, mas que nada fazem em favor do seu próximo. Muitos são os que têm ouvidos, mas não conseguem ouvir o clamor das multidões.

O evangelho de hoje praticamente se resume a cantar musiquinha pra Jesus, a ensaios coreográficos que rivalizam com os shows da Broadway, ao cuidado de cada um com a sua própria salvação e outros salamaleques criados pelo pós-modernismo. Mas a proposta de Deus em Cristo para nós é que nos tornemos a imagem do seu Filho. O nome do jogo não é adoração e sim serviço. O grande mandamento de Jesus para nós não é para amarmos somente a ele e sim para amarmos o mundo como ele nos amou.

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