Cisco e trave por Truly Muffinart |
Por que é que você vê
o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de madeira que está
no seu próprio olho? Mateus
7.3
Sem dúvida há uma boa dose de humor nesse texto. Jesus
estava rindo e ele esperava que os outros rissem também. Porém, fica muito
difícil entendermos o texto esse enfoque porque uma falsa piedade nos tem
privado de ver esse modo engraçado de Jesus Cristo. Até achamos que é uma
blasfêmia, uma verdadeira profanação imaginar Jesus com uma pessoa engraçada e que
fazia os outros rirem. Achamos que nossa fé tem por legado uma religião muito
sisuda e, por isso, incompatível com qualquer gracejo. Essa impossibilidade de
reconhecer humor nas palavras de Cristo muitas vezes nos atrapalha. Temos visto
Jesus como alguém inflexível, rígido na sua postura e sombrio de uma forma bem
acentuada. Por isso que temos dificuldade para entendermos os textos que são
contraditórios a essa imagem. Por isso perdemos muito daquilo que Jesus ensinou
aos seus contemporâneos. No nosso literalismo nós perdemos muito dessa essência
que é primordial nas suas palavras.
Vejam o nosso texto de hoje: Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não
repara na trave de madeira que está no seu próprio olho? O que poderia
ser mais absurdo do que uma pessoa com um tronco de árvore no olho tentando
retirar um pequeno cisco no olho de outra pessoa? Se isso não é engraçado eu
não sei mais o que é. Quem riria muito presenciando uma cena ridícula como
essa? Nós lemos e escutamos esses versículos durante toda a nossa vida e nunca
atentamos para o fato de que um tronco de árvore de forma alguma caberia num
olho humano. Ainda que coubesse bloquearia qualquer visão. Jesus estava tentando
nos mostrar nessa pequena parábola é o quanto é ridícula a prática de ficar
censurando os outros. Como é engraçado um pecador tentar corrigir o outro que é
tão pecador quanto ele. Isso não pode ser outra coisa senão motivo de riso.
Falhamos mais tristemente ainda em não perceber o humor nas
palavras de Jesus Cristo quando fazemos confusão a respeito do que ele disse
sobre julgamento. Os dois versículos anteriores a esse são um exemplo claro
disso. É o seguinte: Não julguem os
outros para vocês não serem julgados por Deus. Porque Deus julgará vocês do
mesmo modo que vocês julgarem os outros e usará com vocês a mesma medida que
vocês usarem para medir os outros (Mateus 7.1-2). Aqui o seu humor é ainda mais penetrante
e mais profundo. Não é de se estranhar que não o percebamos tão facilmente, por
conta disso é que optamos por uma leitura literal, como se costuma falar: ao pé
da letra. Essa leitura faz com que entendamos que nunca devemos julgar ninguém
e que complicação isso tem nos trazido. Nós pensamos que Jesus falou: não julguem ninguém e é isso que
tentamos fazer, logicamente sem sucesso, o tempo todo. E vamos nós levando a
vida nessa infrutífera empreitada que só nos causa culpa, desânimo e
frustração.
Está errado. Temos que julgar e julgamos mesmo. Jesus nunca disse
para aceitarmos a vida como ela se nos apresenta. Ele nunca disse que
deveríamos nos conformar com tudo que as pessoas fazem conosco. Se não podemos
julgar, então o que significa a consciência humana? Julgamos todas as vezes que
votamos em uma eleição. O problema aqui não é o julgamento em si e sim os
critérios que usamos ao julgar os candidatos. Julgamos, e devemos julgar
acertadamente, como devemos educar os nossos filhos. Julgamos permanentemente o
que é verdadeiro e o que é falso. (continua)
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