Néscios de coração

Discípulos de Emaús por Karl Schmidt Rottluff

O texto dos caminhantes de Emaús trata com riqueza de detalhes duas manifestações dando-lhes a dimensão exata do que é uma real experiência com Deus. Ele detalha o verdadeiro caminho da conversão que muitos chamam de a primeira experiência com Deus. Porém, o texto trata também da conversão diária, da mudança de mente que o culto precisa provocar em nós.

O estado em que Jesus encontra os caminhantes de Emaús retrata muito bem o sentimento de perda e abandono em que nos encontramos sempre que uma situação adversa nos assalta. Eles haviam perdido o seu guia espiritual. Eles, assim como nós, estavam contabilizando mais uma derrota: E nós pensávamos que era ele quem iria redimir Israel. Este desabafo já nos é suficiente para uma avaliação do estado emocional em que se encontravam. Para eles a situação era dramática, irreversível e não deixara sequer um fio de esperança.

Jesus interveio nesta crise como alguém que não tinha apenas respostas, mas a solução definitiva. Quando Jesus pergunta sobre o que eles estavam falando, não estava querendo saber sobre o que tinha de fato acontecido, mas sim qual era a interpretação que eles estavam dando a tudo aquilo pelo qual estavam passando. Jesus pergunta também o porquê da sua tristeza, mas não para ouvir um relato da sua paixão e morte sob o ponto de vista deles, mas para conhecer os reais motivos dos seus lamentos e onde exatamente a sua morte os havia atingido mais contundentemente. Contudo, as respostas que recebeu eram tão equivocadas quanto àquelas que, durante o seu ministério, ouviu de Pedro, Tiago e João. Uma resposta que era a inversão radical e absoluta do sentido para o qual a experiência realmente apontava. Eles eram néscios de coração.

Indistintamente em todas as vezes que nos decepcionamos com Deus estamos olhando em direção oposta ao que ele quer nos mostrar. Invariavelmente o vazio que sentimos nunca é causado pelo motivo em questão, e sim pela nossa falta de fé. Não foi diferente com os discípulos de Emaús. Quando a presença de Jesus no meio deles apontava para a vitória eterna da ressurreição eles ainda estavam amargando a derrota de uns breves momentos em que Jesus se deixou flagelar pelo somatório de todos os males do mundo. O que a lagarta chama de fim do mundo, o homem chama de borboleta, dizia Richard Bach.

Leitura: Lucas 24.13-35

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