Jesus, Marta e Maria, autor não identificado |
Disse-lhe Jesus: Eu
sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o
que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto?
Talvez esta seja a pergunta mais importante da fé cristã. A
todo instante somos chamados a respondê-la ou nos sentimos na obrigação de
fazê-la. Mas quando o texto da ressurreição de Lázaro aponta para cada um de
nós, confrontando-nos com a promessa mais radical do evangelho, esta pergunta
assume uma dimensão totalmente outra. Quando a dor e o infortúnio batem à nossa
porta, na hora em que o coração é tomado pelo sentimento de perda; no momento
em que se questiona a mais firme convicção e a mais lúcida razão da fé, é
exatamente quando essa pergunta cala mais fundo: Você ainda persiste em continuar acreditando a despeito de tudo?
Quando me coloco no lugar de um pai, ou de uma mãe, de uma esposa ou marido, de
um filho ou uma filha, que o coração está totalmente tomado pelo veneno do
inconformismo, a única resposta que tenho para esta pergunta é: Eu não sei o que dizer.
Uma das tarefas mais árduas das quais enfrentei no meu
ministério foi quando tive que oficiar o sepultamento do filho de um amigo que
tinha exatamente a mesma idade do meu filho. O que eu poderia dizer para aquele
pai quando a coisa que eu menos queria neste mundo era estar no lugar dele? O
que poderia dizer para aquela mãe que, ao voltar para casa, nunca mais iria
abraçar o seu filho, como eu pude, graças a Deus, fazer com o meu imediatamente
assim que retornei?
Marta, você crê que a
morte é uma barreira facilmente superável? Eu creio, Senhor. Mas você
crê que a morte do seu irmão, aquele único que garantia o sustento seu e da sua
irmã Maria, que era quem defendia vocês dos maus intencionados, pode ser também
uma dessas barreiras facilmente superáveis?
Fui incumbido com a honrosa tarefa de falar um pouco da vida
do meu amigo João Wesley Dornellas, a quem já me referi algumas vezes direta ou
indiretamente neste blog. Falar a respeito do que o João fez é uma tarefa
relativamente fácil. Qualquer retrospectiva mínima da sua vida cobriria
tranquilamente um bom espaço do culto. Falar para outras pessoas a respeito do
que o Wesley representou para a igreja, já é um pouco mais complicado, porque
poucos vão acreditar que ele fez o que fez sendo apenas um leigo que não
almejava qualquer cargo de poder. Mas falar dele para a sua esposa, para os
seus filhos e noras, falar para as pessoas, que como eu, o conheciam bem é uma
tarefa praticamente impossível. O que dizer para uma mulher que perdeu a sua
referência de quase sessenta anos de convívio estreito e amoroso? O que dizer
para os seus netos que através dele ficaram conhecendo as novidades mais
impactantes do passado? O que dizer para nós que fomos seus alunos na Escola
Dominical quando as dúvidas da fé nos assaltarem?
Eu disse no começo que lidar com a morte, pelo
menos para mim, não é nada fácil. E eu só posso entender que Jesus, através do diálogo
com Marta no caminho de sepulcro de Lázaro e através também do seu único pranto
digno de registro em todo o evangelho, não estava apenas querendo nos desafiar
a crer na ressurreição, mas também nos fazer entender que ela somente se faz
possível quando o sentimento de perda é sincero e visceralmente lamentado.Leitura João 11.25-26
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