Da boca de pequeninos

A cura de Naamã, Escola alemã do XV século
Uma análise crítica da narrativa da cura de Naamã em II Reis 5 vai descobrir que não há razão para desatacarmos a atuação de qualquer outra pessoa que não seja a menina, pois todos os outros personagens desempenham o papel que lhes era criteriosamente devido. O rei opressor exigindo cada vez mais daqueles a quem oprime. O rei vassalo desesperado e impotente ante as exigências. O general Naamã, o poderoso que supõem que pela força se consegue tudo. O profeta, que faz a vontade de Deus conferindo pouca ou nenhuma relevância ao poder das armas. Um servo, cuja condição de submissão lhe propiciou enxergar o bem por trás de imposições insensatas. Como diz uma música do nosso tempo: Cada um no seu quadrado. No entanto, no meio da mesmice surge a menina. Aquela que foi levada cativa, provavelmente acorrentada para um país longínquo e de língua estranha. Arrastada à força para longe da sua família, dos seus amiguinhos, dos seus brinquedos e distante das coisas que aprendera a gostar. Logo ela, tão frágil e tão machucada foi a única que fez diferença em toda narrativa. Apesar da sua dor, mesmo sem entender o porquê, não odiou seu carrasco. Pelo contrário, amou aquele que tanto lhe fez mal. Ela foi como o sândalo que perfuma o machado que o fere. Ela antecipa o mandamento primordial da fé cristã: amar o inimigo e fazer o bem a quem nos quer mal. Ela é mais bem aventurada, porque não viu e creu. No seu pequeno e ferido coração ela ainda guardava uma fé imensa no Deus dos seus pais. É ela quem dá sentido a toda história, quem faz a perfeita exegese da situação. É ela, que muito antes de Paulo, mais do que em palavras escritas nos assegura do meio de sua angústia que todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus.

Leitura: II Reis 5.1-15.


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