Povo escolhido, Willian Blake |
Sobretudo no Primeiro Testamento a ideia da eleição divina é
extremamente viva. Essa eleição estende-se em primeiro lugar à nação de Israel
como tal e, dentro do quadro da nação, a alguns indivíduos privilegiados, particularmente
o rei. A concepção da eleição de Israel está intimamente ligada à noção da
aliança, pela qual Deus, livremente, escolheu para si o seu “próprio” povo (Dt
14.2).
Israel tinha consciência de ser “o povo de Javé” (Jz 5.11;
Sam 2.24; Jz 20.2: “o povo de Deus”; também II Sm 14.13); isso significava que
Israel era um povo santo, i. é: separado (Dt 7.6; Dt 14.2; Dt 26.19; Dt 28.9;
Ex 19.6; Nm 23.9) e devia sua existência religiosa e política exclusivamente à
intervenção de Deus (Mq 4.6; Am 3.2). Os profetas relacionam essa eleição com o
êxodo do Egito (Am 9.7; Os 13.4; Mq 6.3-5; Jr 2.2; Ez 20.5s); conforme outra
tradição, a eleição já começara com os patriarcas (Jr 11.5; Jr 33.26; Ez 28.25;
Ez 37.25-28; Gn 12.1-2; Gn 15.1; Gn 17.1-8; Gn 22.15-18; Gn 26.2-5, etc.).
Essas duas tradições são combinadas tanto em Dt 4.37; Dt 7.6-8; Dt 9.5; Dt 10.15;
Dt 14.2; Dt 26.18 como em Is 41.8s; Is 43.10-20; Is 21.24; Is 45.4; Is 48.10-12;
Is 65.9-22.
A eleição de Israel como povo tem por consequência a eleição
da “terra santa”, especialmente de Jerusalém (I Rs 8.48; I Rs 11.13-32; I Rs 14.21;
Zc 2.16), do templo (Dt 12.5-11; Dt 14.18; Dt 14.21-27, etc.; Is 28.16 conforme
os LXX; I Rs 8.16; I Rs 11.32; II Rs 21.7) e de toda a Palestina (Jr 3.19,
conforme os LXX; Zc 7.14 conforme os LXX). Devido à eleição divina todos os
membros do povo de Israel são "eleitos” (Sl 105.43; Sl 106.5), porque
todos participavam do único amor preventivo de Deus que os escolhera, amor esse
que se manifestara na promessa feita aos antepassados (Is 41.8-10; Dt 10.15; Ex
32.13; Lv 26.45). O perigo de farisaísmo não era imaginário: no judaísmo se
havia de chegar à convicção de que o simples fato de pertencer ao “povo eleito"
garantia a salvação (Mt 3.9; Jo 8.33; Rm 2,.17; Rm 4.9). A expressão “odiar”
com o sentido de “não eleger" (Is 41.9; Sl 78.67; Ml 1.2) parece provar
que a eleição foi sempre considerada como uma prova, não merecida, de amor (Dt
7.6-8).
Não apenas a nação como tal, mas também determinados
indivíduos podiam ser objeto de uma eleição Isso vale para os chefes do povo, os
patriarcas (Abraão, “amigo de Deus”: Is 41.8; II Cr 20.7; Dn 3.35; conforme os LXX,
Tg 2,23; cf. Ne 9.7; Gn 18.19), Moisés e Abraão (Sl 106.23; Sl 105.26; Nm 17.20),
o Servo de Javé (Is 42.1; Is 49.7), os Levitas (Dt 18.5; 21,5; I Cr 15.2) e
sobretudo o rei (I Sm 10.20-24: a sorte como instrumento de eleição). Quanto a esse
último, o termo “eleito de Javé” tomou-se uma fórmula fixa nas etiquetas da corte
(II Sm 15.32-37; II Sm 16.18). Embora a contribuição do povo na constituição de
um rei não deva ser subestimada (I Sm 8.18; I Sm 12.13; II Sm 16.18; I Rs 12.1),
assim mesmo a eleição divina continua sempre o fundamento da dignidade régia
(Sl 89.4-20; I Sm 16.6-13; II Sm 6.21; I Cr 28.4; I Rs 8.16; II Cr 6.6).
O rei,
como constituído por Javé (geralmente por meio de unção) tem o título de nãgid, i. é, “sublime" (quase
sinônimo de “eleito”, cf. I Cr 5.2; I Cr 28.4; II Cr 6.5; II Cr 11.2); o mesmo
pensamento sobre a eleição do rei encontra-se em Dt 17.15; I Sm 10.24 e I Cr
28.4. No entanto, não são apenas os chefes do povo (os representantes naturais
da nação) que gozam de uma eleição divina; isso se evidencia, p. ex., pela
existência do nome próprio Jebaar (‘‘Javé escolhe”: II Sm 5.15; I Cr 3.6; I Cr 14.5).
A liberdade de Deus é ainda ilustrada pelo fato de que Javé prefere muitas
vezes o mais novo ou menos considerado ao mais velho (primogênito) ou mais
importante (Gn 25.23: “o mais velho servirá o mais novo”; cf. Gn 4.5; Gn 37.7-9;
Gn 48.19; Rm 9.11-13). (continua)
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