O que é PARÁBOLA? I

Parábolas de Jesus, James Christensen
Terminologia.
A palavra parábola vem, através da Vulgata, da palavra grega parabolé que em virtude de sua etimologia (pará e ballein) significa de modo geral “comparação”. Encontra-se 50 vezes no Primeiro Testamento, referindo-se (exceto Hb 9.9; 11.19) sempre às parábolas de Jesus ou ao seu método de ensinar nos Evangelhos sinóticos.

A Vulgata traduz por parábola ou (8 vêzes em Lc) similitude. João não usa o termo parabolé, mas sim, 4 vezes, paroimia (10.6; 16.25.29; proverbium) que tem praticamente o mesmo sentido. Nos LXX paroimia, ao lado de outros termos, traduz sobretudo o hebraico mãsãl (cf. Mt 13,35), que pode significar provérbio, sentença, comparação, charada, epigrama, e é o elemento típico da literatura sapiencial do AT. A esse gênero, tomado em sentido mais largo, pertencem também as parábolas dos Evangelhos. Conforme II Sm(1,653) mãsãl pode ser um dito breve, pitoresco sobre um caso típico (Lc 4.23; Mt 15.15) ou então uma comparação mais elaborada, parábola (II Sm 12.1-4; Is 5.28.23-29), alegoria, poesia etc.

As parábolas de Jesus nos sinóticos.
Por parábolas entendemos determinadas partes da pregação de Jesus segundo os sinóticos, que têm um caráter concreto, mas ao mesmo tempo enigmático, velador. Que essas parábolas remontem ao próprio Jesus, provam-no seu caráter fortemente palestinense e a linguagem e as ideias muito pessoais de Jesus. Se, portanto, as parábolas em geral se situam na pregação de Jesus, há uma ou outra que talvez se situe nas experiências e esperanças da comunidade cristã primitiva, o que se pode notar, pela mudança de auditório (Mt 20.16).

A parábola distingue-se da alegoria por certa independência na forma. A alegoria é uma série de metáforas, e todo detalhe de imagem tem seu significado especial. A parábola, porém, é uma narrativa que tem sentido em si, comparando-se apenas a grande linha, a situação da realidade com a da imagem, sem que todo detalhe da imagem tenha uma função simbólica. No entanto, algumas parábolas apresentam traços alegóricos, como, parábola a do semeador, onde a explicação dada depois por Jesus mostra claramente que diversos detalhes têm um sentido mais alto (Mc 4.13-20). Mas a grande regra hermenêutica, deduzida da própria natureza da parábola, manda evitar aquela alegorização exagerada que os Pais da Igreja não poucas vezes praticaram, e prestar atenção sobretudo ao pensamento principal, indicado muitas vezes pelo “Em verdade, em verdade, Eu vos digo”.

Quanto ao número de parábolas há muita divergência entre os autores, variando de 27 a 70 ou mesmo 100, conforme se chamem de parábola só as comparações mais elaboradas de acordo com a nossa definição, ou também tudo o que os evangelhos chamam de parábola ou que apresenta com isso alguma analogia (parábola ex., simples metáforas). Pelo seu conteúdo podemos dividir as parábolas em duas categorias: as de tendência mais doutrinária e as de tendência mais moralizante.

À primeira categoria, que exprime mais a natureza e o modo de agir de Deus, pertencem as parábolas do “dia à beira do Lago de Genesaré” (Mt 13), que Jesus propôs ao povo (as parábolas do semeador, da semente, do grão de mostarda, do fermento, do tesouro escondido, da pérola, do joio e da rede), depois as parábolas proferidas mais tarde (sobretudo em Mt), em geral não para o povo, mas para os discípulos e para os fariseus, a saber, a dos trabalhadores na vinha (Mt 20.1), a dos dois filhos (Mt 21.28), a dos maus vinicultores (Mt 21.33), a do banquete nupcial (Mt 22.1-14; Lc 14.16), e das virgens prudentes e tolas (Mt 25.1) e a dos talentos (Mt 25.14-30; Lc 19.11-24); todas essas dizem respeito ao Reino de Deus.

A outra categoria é a das parábolas “morais”, que se encontram sobretudo em Lucas, referindo-se ao que os homens são e devem ser, como a do fariseu e do publicano (Lc 18.9), a do amigo incômodo (Lc 11.5) a do juiz injusto (Lc 18.1), a do bom samaritano (Lc 10.30), a do servo cruel (Mt 18.23), a da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho pródigo (Lc 15.3), a do rico tolo (Lc 12.16), a do administrador esperto (Lc 16.1) e a de Lázaro e do rico anfitrião (Lc 16.19).

Essa distinção entre parábolas doutrinárias e moralizantes não se deve exagerar, pois também as parábolas da segunda categoria pertencem à pregação do Reino de Deus, visto que ilustram a moral dos “filhos do Reino”; e as parábolas da primeira categoria contêm muitas lições morais. (continua)



Fonte:
Dicionário Enciclopédico da Bíblia. A. Van Den Born. Vozes 1977

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